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quarta-feira, 30 de julho de 2014

O deserto e a liberdade

Artigo de Ricardo Barbosa de Sousa

Não é sem motivo que Deus, logo após libertar o povo da escravidão no Egito, os conduziu para o deserto. A passagem pelo deserto era necessária para ajudá-los a deixar para trás a mentalidade da escravidão e a compreender a nova liberdade que Deus lhes estava oferecendo. Quando damos o nosso sim a Deus, ele sempre nos conduz ao deserto.

O nosso deserto não é igual ao das areias do Neguev ou do Saara. Nosso deserto é o lugar onde somos levados a refletir sobre nossas ilusões, as expectativas infantis que nos mantêm alienados, inclusive de pessoas que amamos; os medos que mascaramos ou sublimamos em nossa busca frenética por realização e entretenimento. No deserto, não temos um caminho claro e seguro, nenhuma distração, nada que nos excite. Nele, o futuro é incerto, nos vemos vulneráveis e fragilizados, e experimentamos a força das trevas interiores do medo.

Por outro lado, o deserto é o lugar do encontro com Deus, da rendição do orgulho e da ilusão de sermos senhores do nosso destino. É o lugar da companhia divina, do silêncio diante de Deus, onde a quietude nos ajuda a reconhecer a presença dele. O silêncio que nos torna mais atenciosos à voz de Deus. Para sermos livres, precisamos nos afastar, por um tempo, do mundo dos homens para entrarmos, a sós, no mundo de Deus. Um tempo no qual as paixões, tensões, pressa, vão, lentamente, cedendo espaço para percebermos a realidade à luz da eternidade e restabelecermos o valor correto das coisas. No deserto, reduzimos nossas necessidades àquilo que é essencial.

A enfermeira americana Bronnie Ware escreveu um livro sobre os “cinco maiores arrependimentos ou lamentos de pacientes terminais”. Depois de acompanhar por vários anos estes pacientes, ela listou aquilo que eles gostariam de ter feito e não fizeram, como: ter mais tempo para os amigos e não ter trabalhado tanto. O deserto deles trouxe uma outra dimensão de suas reais necessidades.

Na solidão do deserto, descobrimos a suficiência da graça de Deus. Teresa de Ávila (1515--1582) descreveu num poema sua experiência no deserto:

Nada te perturbe,
Nada te espante.
Tudo passa.
Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem tem a Deus,
Nada lhe falta.
Só Deus basta.

Nossa necessidade primeira é Deus. De tudo o que aprendemos no deserto, a lição mais importante é que aquilo de que mais necessitamos encontramos na comunhão com Deus. A experiência do deserto nos conduz ao autoesvaziamento, ao desapego dos ídolos que nos oferecem a falsa segurança, e à completa submissão a Deus e aos seus caminhos. Aprendemos a ver a vida desde a perspectiva da eternidade, o que nos ajuda a colocar em ordem nossos valores.

A verdadeira liberdade nasce do deserto. Foi no deserto que Jesus reafirmou a identidade dele e seguiu livre para realizar a missão dele em obediência ao Pai. Não precisou usar nenhum artifício para se autopromover. Foi livre para fazer o que tinha de fazer, assumir a cruz e, no fim, morrer. O deserto nos liberta dos falsos deuses, das mentiras e ilusões que nos fazem pessoas controladoras e manipuladoras. Rompe com a falsa sensação de que temos controle sobre o nosso destino. O deserto nos torna pessoas mais verdadeiras, livres, e mais conscientes de nossa total dependência de Deus.

Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de, entre outros, A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja.

Fonte: Editora Ultimato

sexta-feira, 25 de julho de 2014

A Generosidade

por Boa Semente

O que vê com bons olhos será abençoado, porque dá do seu pão ao pobre.

E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada.

Deus ama ao que dá com alegria

(Provérbios 22:9; Hebreus 13:16; 2 Coríntios 9:7)
Certo menino era alvo de deboche por ser de família pobre. Os outros garotos zombavam das roupas e sapatos dele, da maneira como falava e também de sua confiança em Deus. Um dia um deles lhe perguntou: - Por que você continua orando se o bom Deus nunca lhe responde? Por muito menos eu podia te dar roupas novas! O menino permaneceu em silêncio por um momento e então disse:

- Deus sempre responde; certamente Ele deu ordem para alguém me abençoar, mas essa pessoa não deu importância ao que Ele falou.

Espero que essa pequena ilustração tenha lhe tocado, como tocou a minha consciência. Nosso mestre, o Senhor Jesus Cristo, “andou fazendo bem” (Atos 10:38). Sempre estava disposto a servir os outros. Disse aos Seus discípulos que qualquer um que desse um copo de água fria a um pequenino não perderia sua recompensa (Mateus 10:42). Quando estivermos no céu será muito tarde para imitar nosso Senhor, porque não haverá necessidades. Oportunidades não faltam: elas estão em nossa porta, em nossa rua, cidade, entre os cristãos e os não-cristãos. Peçamos a Deus que abra nossos olhos e coração para que façamos as “boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:10). Portanto, quando tivermos a chance, “façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gálatas 6:10).

Fonte: Extraído do devocional BOA SEMENTE- pedidos@boasemente.com.br

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Epidemia de “crendismo fácil”?


Entrevista a Billy Graham

O evangelista fala sobre obediência, céu e inferno e sobre sua campanha My Hope (Minha Esperança).

07 de Novembro de 2013
Fonte: Cristianismo Hoje, publicado em Entrevistas Internacionais 

No apogeu de seu ministério de cruzadas, Billy Graham viajava pelo mundo todo pregando para grandes multidões. Agora, apesar de confinado em sua casa nas montanhas do oeste da Carolina do Norte, o evangelista ainda é capaz, através da tecnologia moderna, de continuar proclamando o evangelho. Novembro marca o início da campanha "My Hope America with Billy Graham", um curso de evangelismo em vídeo projetado para uso individual ou de pequenos grupos. Em conjunto com o lançamento da campanha, Graham lançou o que pode ser o seu último livro, The Reason for My Hope: Salvation. Christianity Today perguntou a ele sua opinião sobre o estado atual da fé cristã e sobre sua confiança, em meio à confusão teológica e cultural, na mensagem essencial do evangelho.

Você se considera, em primeiro lugar, um evangélico ou cristão? Por quê?

O que realmente importa é como Deus me vê. Ele não está preocupado com rótulos; ele está preocupado com o estado da alma humana. A Bíblia diz que sou, antes de tudo, um pecador. "Porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus". (Romanos 3:23). Mas devido à graça salvadora que Jesus estendeu a mim, e ao meu arrependimento do pecado, me tornei seu filho – sendo salvo pelo sangue do meu Salvador na cruz. Naquele momento, eu entrei em um relacionamento com ele que transformou a minha vida. Aqueles que lerem The Reason for My Hope verão claramente nas escrituras como ser salvo e viver a vida cristã.
Jesus Cristo é meu Senhor e Mestre. Eu me arrependi de meu pecado, entreguei minha vida a Cristo e procuro diariamente obedecer à sua Santa Palavra. Eu sou seu seguidor. Antes da minha conversão, em 1de novembro de 1934, como conto no livro, eu sempre me considerei cristão. Foi só quando fui confrontado e convencido do meu pecado que percebi que Cristo faz a diferença na vida daqueles que não apenas se dizem cristãos, mas que obedecem à Sua Palavra. Se não houver mudança na vida de uma pessoa, ela deve se perguntar se de fato tem a salvação que o Evangelho proclama. Muitos dos que vão à igreja não experimentaram uma transformação de vida em Cristo. Aqueles que não fazem parte da igreja esperam que os seguidores de Cristo vivam de maneira diferente, no entanto, muitas pessoas que estão na igreja estão indo atrás do mundo – não para ganha-lo para Cristo, mas para serem iguais a ele. Isso é muito perigoso e a Bíblia fala sobre o resultado trágico que tal atitude traz.
No Novo Testamento, quando as pessoas ouviam a verdade que Jesus ensinava e recebiam a gloriosa dádiva do perdão e da esperança de vida eterna no Céu, as outras pessoas que observavam a mudança em suas vidas, as chamavam de cristãs – seguidoras de Cristo. (Atos 11:26). Assim como Jesus veio voluntariamente para salvar a humanidade do pecado, eu, de bom grado, o sirvo e procuro glorifica-lo com minha vida, porque sou um filho do Rei. Sermos chamados de cristãos deve fazer com que nos identifiquemos com as exigências que Cristo faz àqueles que lhe pertencem. Ele diz que pagamos um preço por segui-lo.
A minha pregação é de evangelista e eu sinceramente acredito no ensino fundamental das Sagradas Escrituras. Essa é a base do meu livro. Espero que as pessoas o leiam. Meu desejo é que os leitores compreendam o privilégio e a responsabilidade da vida cristã. Quando Jesus se torna nosso Mestre deixamos de lado nosso velho caminho e passamos a trilhar o seu. Nem sempre é fácil, mas é extremamente produtivo e desafiador, porque aqueles que o seguem tornam-se luzes brilhantes em um mundo repleto de escuridão. É por isso que os cristãos têm esperança. A razão de eu ter esperança para o mundo é porque Cristo morreu pelo mundo inteiro e está chamando os perdidos e cansados para se aproximarem dele. Jesus disse que "veio buscar e salvar o que estava perdido". (Lucas 19:10).

Por que, de acordo com o título do livro, é a salvação a razão da sua esperança?

À medida que fui me aproximando de completar 95 anos de idade, eu sentia uma necessidade de escrever um livro que abordasse a epidemia do "crendismo fácil". A mentalidade que existe hoje é que se as pessoas acreditam em Deus e fazem boas obras, elas vão para o Céu. Mas existem muitas questões que devem ser respondidas. Existem duas necessidades básicas que todas as pessoas têm: a necessidade de esperança e a necessidade de salvação. Não me surpreende nem um pouco que as pessoas creiam com facilidade em um Deus que não faz exigências, mas esse não é o Deus da Bíblia. Satanás têm, de maneira ardilosa, enganado as pessoas, as fazendo acreditar que podem crer em Jesus Cristo sem serem transformadas, mas essa é uma mentira do Diabo. Aqueles que dizem que se pode ter Cristo sem abrir mão de nada estão sendo enganados. Embora eu não seja mais capaz de pregar em um púlpito, Deus colocou no meu coração um desejo ardente de dividir essa mensagem no formato de um livro – mensagem esta que ecoa dentro de mim toda vez que assisto ao noticiário. Quando visito pessoas com diferentes histórias de vida, ouço a mesma pergunta: "O que está acontecendo com o mundo?".
Muitos políticos e líderes do governo já me fizeram essa pergunta. Inúmeros estudantes em campus universitários imploraram para ouvir a verdade. Eu sempre expliquei que o Deus Todo-Poderoso é o arquiteto da Terra, o Criador da humanidade e quem formou a alma. Ele é o Princípio e o Fim, o Doador e Consumador da Fé. Todas as respostas estão na Palavra revelada de Deus. A salvação é uma dádiva de Deus para o mundo, mas a dádiva do Seu amor e perdão deve ser aceita em Seus termos – não nossos. Dádivas nunca são forçadas, pois são oferecidas e recebidas. Muitos hoje dizem que a ideia de redenção é antiquada. Escrevo no livro sobre Hollywood, e até mesmo sobre futebol americano profissional, adoráveis histórias de redenção. Por quê? Um crítico de cinema afirmou que as pessoas desejam superar aquilo que as aflige no interior. Cristo é o único que pode tirar o desespero que existe dentro de nossos corações. Esta é a razão da minha esperança, que pessoas de todos os lugares abram seus corações à salvação de Cristo – a dádiva redentora que oferece paz e a certeza da vida eterna.

Por que você acha que Deus achou por bem dar-lhe mais tempo na terra antes de chama-lo para o Céu?

Por passar mais de 70 anos viajando e pregando ao redor do mundo, não tive muito tempo para refletir. Mas não importa onde eu estivesse, quando voltava para casa, Ruth estava sempre aqui me esperando. Nós apreciamos esses momentos, e sempre encontrávamos tempo para buscar ao Senhor juntos, nos alegrando com as respostas às nossas orações. Sinto falta dessa comunhão com ela. Ela era uma guerreira de oração e adorava conversar sobre a Bíblia. Ruth foi para o Céu há seis anos e eu acredito que o Senhor me deu esse período da vida para considerar tudo o que ainda resta a fazer e a ser fiel à mensagem de Cristo, enquanto ainda tenho vida. Quer preguemos em um púlpito ou nos sentemos em contemplação silenciosa, há sempre muito mais a aprender à medida que buscamos a face do Senhor. Ao olhar para trás, vejo que houve momentos em que não fui tão forte quanto deveria, mas meu coração e meu ministério sempre estiveram enraizados na Palavra de Deus. A mensagem que eu prego está ancorada no que "a Bíblia diz".
Eu tento usar meus dias para encorajar outros a servirem a Jesus Cristo de todo coração, orando por aqueles que trabalham em seu nome e pedindo que muitos mais respondam ao chamado de Deus para pregar a verdade do evangelho, declarando o que a Bíblia diz. É a verdade. Sua Palavra é vida.

Como você selecionou os temas e ilustrações que tratam tão especificamente das necessidades das pessoas?

Este livro aborda muitas questões e preocupações que pesam no meu coração e, apesar de já ter escrito mais de 30 livros, acredito que este se concentra em questões presentes nas mentes de pessoas de todos os lugares. Há tantas religiões no mundo e eu nunca presenciei tanta confusão como existe hoje sobre onde encontrar a verdade. Vemos pessoas pregando que Deus é um Deus de amor, não de ira. Pessoas que proclamam que o Céu é real, mas que o inferno é apenas um produto da imaginação. À medida que fazia a pesquisa para esse livro, meu coração partia ao ouvir várias pessoas preconizando que o inferno será um happy hour sem fim, comediantes famosos afirmando que estão felizes em saber que irão para lá um dia.
Este livro foi escrito para soar como um aviso – um aviso amoroso do Céu – de que o Céu foi criado para aqueles que se humilham diante de Deus, e o inferno, criado para Satanás e para aqueles que o servem. Cristo veio para livrar a humanidade das amarras que Satanás coloca em suas vidas. Jesus Cristo é a resposta para o mundo – ele é a âncora da alma – ele é o Deus da esperança, que veio em forma humana para nos resgatar das garras de Satanás. Certa vez, um professor de um seminário fez uma declaração profunda para seus alunos: "Nunca pregue sobre o inferno sem ter lágrimas nos olhos". A minha mensagem é proclamar que somos todos pecadores com necessidade de um Salvador e perguntar a cada um esta pergunta: Você já foi salvo?

Em seu livro, você levanta a seguinte questão: Quem se recusaria de ser livrado de uma tragédia? Por que isso?

Não parece razoável alguém recusar ser resgatado de um navio naufragando, mas algumas pessoas já fizeram isso, por não acreditarem realmente que se afogariam. Da mesma maneira, o mundo está cheio de pessoas que não acreditam que se morrerem em pecado irão para o inferno e, portanto, se recusam a serem salvas pela Cruz do Senhor Jesus Cristo.
Eu conheci muitas pessoas interessantes e escrevo sobre algumas delas no livro, como o herói de guerra americano Louis Zamperini, que foi resgatado do Oceano Pacífico apenas para ser capturado pelo inimigo durante a Segunda Guerra Mundial. Mas ele descobriu mais tarde que um inimigo ainda maior controlava a sua alma, e ele não estava disposto a ser liberto do alcoolismo até encarar o inimigo e ser resgatado pelo amor salvador de Deus.
Assim que comecei a trabalhar no livro, o Costa Concordia afundou na costa da Itália. Um terror como esse, que atinge os corações humanos, é indescritível. De repente, as pessoas começam a perceber que a "vida boa" não pode salva-las. Elas gritam por socorro, mas aqueles à sua volta estão na mesma situação e não podem ajuda-las. Onde podem conseguir auxílio? Este é o estado do nosso mundo, e o único que pode salvar é aquele que nasceu com esse único propósito, como nos conta a história do Natal. "E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados". (Mateus 1:21).
A Bíblia continua sendo o livro mais vendido de todos os tempos, e ainda assim as pessoas se recusam a acreditar. Elas se recusam a aceitar o maior presente que já foi oferecido à humanidade. Por quê? Porque isso exige a confissão do pecado e a entrega total de nossa vida egoísta. Exige o arrependimento do pecado contra Deus. Muitos preferem viver ao máximo durante o curto período aqui na terra, na esperança de que não exista um inferno de sofrimento na vida após a morte. Elas acreditam na mentira do Diabo de que nada acontece depois que morremos. Mas Jesus falou mais sobre o inferno do que sobre o Céu. É por esse motivo que eu passei a minha vida convidando as pessoas do mundo: Venha a Jesus como você é, e ele lhe receberá e fortalecerá a cada passo do caminho.

Você escreve que o "pecado está na moda". O que quer dizer com isso?

Na sociedade do século 21, as pessoas fizeram uma transformação no pecado, o chamando de erro. Deus chama de iniquidade. É uma doença da alma. A sociedade geralmente deseja fazer campanha contra doenças, levantar dinheiro para erradica-la. Mas a doença do pecado é celebrada e glorificada pela sociedade, especialmente dentro da cultura popular atual, e o preço que se paga nos âmbitos físico, emocional e espiritual é totalmente ignorado. A sociedade pode se gabar de que o "pecado está na moda", mas a verdade é que o pecado está em você, em mim e em todas as pessoas.
A mídia secular conta, frequentemente, histórias de homens e mulheres que cometem crimes horríveis, e a humanidade exige que essas pessoas paguem pelo que fizeram. No entanto, a humanidade se ressente por Deus exigir que paguemos pelos pecados cometidos contra Ele. Deus se mostra um Pai amoroso ao enviar o seu próprio sacrifício, seu único Filho, para morrer no lugar do homem, pagando a penalidade do pecado que a Bíblia diz que "tão de perto nos rodeia". (Hebreus 12:1). Muitas pessoas que transgridem as leis de Deus se ressentem por seus pecados serem julgados por um Deus justo. Rejeitamos a ideia de nossas próprias transgressões, mas quando se trata de faltas cometidas em um jogo de futebol, por exemplo, nós aceitamos as regras; na verdade as amamos. Se estamos torcendo pelo nosso time e a equipe adversária comete uma falta, nós comemoramos. Isso está no coração do homem, mas posso garantir que Deus não se alegra quando cometemos faltas (pecados) contra Ele. Seu coração se entristece. O pecado é veneno e destrói. A salvação é o antídoto que purifica.

A sociedade de hoje é obcecada pela tecnologia, tema que você comenta em detalhes. Existe uma visão bíblica acerca da tecnologia?

A Bíblia declara que "não há nada de novo debaixo do sol" (Eclesiastes 1:9). Nada surpreende Deus. Ele permite que sua criação explore os recursos que ele nos deu na terra. Nós certamente observamos a infinidade dos recursos de comunicação explodir quando entramos no século 21. Eu sempre amei a arte da comunicação, e não há dúvida de que meu ministério se beneficiou muito através da utilização da amplificação e ampliação em arenas e estádios ao redor do mundo. A televisão e o rádio permitiram que o evangelho alcançasse os confins da terra, como a Bíblia previu. Mas apesar de Deus permitir que venham bênçãos de invenções tão grandiosas, como dispositivos móveis e sem fio, Satanás também tem usado a tecnologia para avançar, de maneira inteligente, o seu engano. Há gerações hoje que se orgulham de sua capacidade de se comunicar instantaneamente através do Facebook ou Twitter, mas são incapazes de se comunicar pessoalmente. As pessoas estão encontrando consolo sentadas em frente à tela do computador dispostos a falar com estranhos sobre qualquer coisa, através da comunicação eletrônica, mas não acreditam que Deus pode ouvir seu clamor de solidão, tristeza e dor.
Um presidente da Universidade de Harvard, uma vez me disse que o que os jovens mais desejam é "pertencer". Multidões estão dispostas a pertencer a praticamente qualquer coisa, exceto a Deus. A raça humana sempre esteve em uma busca por verdade e aceitação, no entanto, homens e mulheres não estão dispostos a aceitar Aquele que é a verdade. Em vez disso, estão se voltando para uma nova mistura de fé que está na moda, um pouco de cristianismo, um pouco de budismo e um pouco de nova era. Esse é um truque do diabo, que adora misturar um pouco da verdade com suas mentiras. A Bíblia nos adverte sobre isso e nos diz que devemos nos agarrar à verdade e lutar pela fé. "Nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios... tendo cauterizada a sua própria consciência". (1 Timóteo 4:1-2).
Mas a tecnologia é um presente de Deus quando é usada para proclamar o evangelho. É por isso que estou animado com o My Hope, um programa evangelístico desenvolvido pelo nosso ministério e que tem sido usado em todo o mundo. Através de todos os meios confiáveis de comunicação, estamos proclamando as Boas-Novas de que Deus ama os pecadores e chama homens e mulheres de todos os lugares a se arrependerem e se voltarem a Ele, recebendo a verdadeira esperança que vem de Deus. Tenho me preparado há meses para pregar essa mensagem através do My Hope America, um especial de televisão que será assistido nos lares de toda a nação americana na semana do meu aniversário de 95 anos. Não consigo pensar em nada melhor para comemorar mais um ano de vida do que proclamar a verdade de Deus. Oro para que todos os cristãos abram suas casas para seus familiares e vizinhos que precisam de Cristo e assistam o que Deus está fazendo nos dias de hoje, que podem até parecer tenebrosos, mas que estão cheios de esperança.
Essa é a mensagem do livro e do nosso próximo especial de televisão desse ano. "Esperança e mudança" tornou-se um clichê nos Estados Unidos nos últimos anos. No livro, eu escrevo sobre as decepções que os americanos experimentaram quando a esperança e a mudança prometidas pelos homens falharam. Mas não há nenhuma decepção no Deus da esperança. A Bíblia diz que é em Jesus, o Filho de Deus, que o mundo pode ter esperança e que o "Deus da esperança" pode nos encher de alegria e paz em nossa crença nessa grande verdade por meio de seu poder. (Romanos 15:12-13).

Sessenta anos atrás, você acordou no meio da noite com um sonho de começar a revista Christianity Today. A revista ainda está em circulação, agora alcançando milhões de pessoas, juntamente com uma série de publicações irmãs. Isso é surpreendente e encorajador para você?

Eu agradeço a Deus e dou toda a glória a Ele por todos os meios que levam a Sua mensagem aos corações e mentes das pessoas. A Christianity Today tem sido boa para mim e para o ministério que Deus nos deu. Estou grato pela revista estar apoiando My Hope. Agradeço pela oportunidade de compartilhar sobre esse livro que é tão importante para meu coração.
É sempre um prazer ler artigos que exaltam a Jesus Cristo e indicam as pessoas à cruz, e eu encorajo os editores, escritores, colaboradores, pesquisadores e o conselho de administração a sempre manterem Cristo no centro de tudo. Honremos a ele, e a ninguém mais.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Pregando sobre o inferno na era da tolerância

Publicado a 24 de Junho de 2013 na CristianismoHoje
Autor:  Tim Keller (pastor da igreja Redeemer Presbyterian, em Nova York.)
Como pregar "boas" novas e o mal em um tempo repleto de pessoas tradicionalistas e pós-modernas?

O jovem presente em meu escritório estava vestido de maneira impecável e era bastante articulado. Ele possuía um certificado de MBA da Ivy League, era bem sucedido no mundo financeiro e já havia vivido em três países diferentes antes de completar 30 anos de idade. Criado em uma família ligada, de maneira mais liberal, à igreja, ele possuía pouco conhecimento sobre o cristianismo.
Fiquei, portanto, satisfeito ao saber de seu enorme interesse espiritual, despertado quando ele começou a frequentar nossa igreja. Ele disse que estava pronto para abraçar o evangelho. Mas ainda existia um obstáculo.
Ele disse: "Você disse que, se não acreditarmos em Cristo, estamos perdidos e condenados. Sinto muito, mas não consigo engolir isso. Eu trabalho com muitas pessoas legais, que são muçulmanas, judias e agnósticas. Eu não consigo acreditar que elas vão para o inferno só porque não creem em Jesus. Na verdade, eu sequer consigo conciliar a ideia de inferno com um Deus amoroso -- mesmo que Ele seja santo".
Esse jovem expressou o que pode ser a principal objeção que os seculares contemporâneos fazem em relação à mensagem cristã. (A segunda objeção seria, a meu ver, a questão do mal e do sofrimento). Essas pessoas rejeitam a ideia do juízo final e do inferno.
Portanto, é grande a tentação para se evitar esse assunto nas pregações. Mas negligenciar doutrinas desagradáveis da fé histórica pode trazer consequências contrárias. Existe um equilíbrio ecológico ligado à verdade bíblica que não deve ser perturbado.
Se uma determinada área fica livre de seus animais predadores e indesejáveis, o equilíbrio desse ambiente pode ser tão abalado que as plantas e os demais bichos inofensivos ficariam perdidos – se reproduzindo em excesso e tendo uma oferta limitada de alimentos. O predador indesejável, que foi eliminado, na verdade, era quem mantinha o número dos outros animais e plantas em equilíbrio. Da mesma forma, se enfraquecermos as doutrinas "ruins" e difíceis da fé cristã, descobriremos, para nossa surpresa, que destruímos também todas as crenças acolhedoras e agradáveis.

A perda da doutrina do inferno e do juízo e da santidade de Deus traz danos irreparáveis às nossas mais profundas sensações de conforto -- nossa compreensão da graça e do amor de Deus, assim como da nossa dignidade humana e do nosso valor diante d'Ele. Para pregar as "boas" novas, devemos pregar também o mal. Mas como fazer isso nessa era da tolerância?


Como pregar o inferno para tradicionalistas
Antes de pregar sobre o inferno, preciso reconhecer que, hoje, uma congregação é composta de dois grupos: os tradicionalistas e os pós-modernos. esses dois grupos recebem a mensagem sobre o inferno de formas completamente diferentes.
Pessoas de culturas e mentalidades tradicionais costumam ter (a) a crença em Deus, e (b) um forte senso de valores morais absolutos e um senso de obrigação de serem bons. Essas pessoas costumam ser mais velhas, e têm, geralmente, fortes origens católicas e judaicas, ou origens evangélicas/pentecostais conservadoras, do sul dos Estados Unidos ou de países não-europeus da primeira geração de imigrações.
A melhor maneira de mostrar a pessoas conservadoras, sua necessidade do evangelho, é dizendo: "O seu pecado lhe separa de Deus! Você nunca será íntegro o bastante para Ele". Os tradicionalistas têm horror à imperfeição. Eles são atraídos em direção a Deus através da ideia do castigo eterno no inferno. Eles percebem a gravidade do pecado.
Porém, esses tradicionalistas podem responder ao evangelho só por medo do inferno, a menos que eu lhes mostre que Jesus experimentou não apenas a dor em geral, na cruz, mas também o inferno, em particular. Isso precisa ser destacado até que eles sejam atraídos a Cristo pela beleza do amor incomparável que ele demonstrou por nós. Para essas pessoas tradicionais, o inferno deve ser pregado como a única maneira de sabermos o quanto Cristo nos amou.

Esta é uma das maneiras como preguei sobre o assunto:
"É preciso que entendamos essa terrível doutrina, caso contrário jamais seremos capazes de compreender a profundidade do que Jesus fez por nós na cruz. Seu corpo foi destruído da pior maneira possível, mas isso não é nada comparado com o que estava acontecendo com sua alma. Quando ele gritou, afirmando que Deus o havia abandonado, ele estava experimentando o próprio inferno.
Quando um simples conhecido lhe rejeita, isso dói. Quando um amigo íntimo faz o mesmo, a dor é muito pior. No entanto, se seu cônjuge lhe abandona, dizendo: 'Eu nunca mais quero ver você', é mais devastador ainda. Quanto mais longo, profundo e íntimo for um relacionamento, mais torturante é a separação.
Mas a relação entre o Filho e o Pai era eterna, e infinitamente maior do que qualquer relação humana, mesmo a mais íntima e apaixonada. Quando Jesus foi separado de Deus, ele entrou no mais profundo poço, mais do que se possa sequer imaginar. E ele o fez voluntariamente, por nós."


Como pregar o inferno para pós-modernos
Em contraste com os tradicionalistas, os pós-modernos são hostis à ideia de inferno. Pessoas com uma mentalidade mais secular costumam ter (a) apenas uma vaga crença no divino, se tiverem, e (b) um fraco senso de valores morais absolutos, junto com um sentimento de que precisam ser fiéis a seus sonhos. Eles costumam ser mais jovens, e geralmente são católicos não-praticantes, têm origens judaicas não- religiosas, ou origens no protestantismo liberal, do oeste e nordeste dos Estados Unidos ou da Europa.
Ao pregar o inferno a pessoas com essa mentalidade, descobri que devo me utilizar de quatro argumentos:


1. Pecado é escravidão. Eu não defino o pecado como sendo apenas uma violação das regras, mas sim como "ter algo, que não seja Deus, como fonte de valor". Essas coisas boas, que se tornam ídolos, conduzirão nossas vidas incansavelmente em direção ao inferno, se permitirmos, nos escravizando mental e espiritualmente.

Eu digo: "Você está sendo religioso, embora não perceba. Está tentando encontrar a salvação através da adoração a coisas que acabam lhe controlando de maneira destrutiva". Os pós-modernos têm horror à escravidão.
As representações feitas por CS Lewis do inferno são importantes para os pós-modernos. Em O Grande Abismo, Lewis descreve um ônibus cheio de pessoas vindas do inferno, chegando aos arredores do céu. Lá, eles são convidados a deixarem os pecados que os levaram ao inferno. As descrições que Lewis faz das pessoas no inferno são tão marcantes porque reconhecemos a negação e a auto ilusão de nossa dependência de substâncias. Quando somos viciados em álcool, ficamos infelizes, mas culpamos outras pessoas e sentimos pena de nós mesmos; não assumimos responsabilidade por nosso comportamento e nem vemos as raízes de nossos problemas.
Lewis escreve: "O inferno... começa com uma murmuração, e você ainda separado desse lugar; talvez até mesmo o criticando... Você pode se arrepender e sair dali. Mas pode chegar o dia em que já não poderá mais fazer isso. E então, você não mais existirá para criticar o clima, ou mesmo aproveitá-lo, existirá apenas a murmuração em si, que durará para sempre, como uma máquina".
As pessoas modernas têm dificuldade para aceitar a ideia de um Deus que puna pessoas desobedientes. Quando o pecado é visto como escravidão e o inferno como uma livre escolha, a masmorra eterna do universo, o inferno se torna muito mais compreensível.
Aqui está um exemplo de como tentei explicar isso recentemente em um sermão:
"Em primeiro lugar, o pecado nos separa da presença de Deus (Isaías 59:2), que é a fonte de toda a alegria (Salmos 16:11), amor, sabedoria, ou boa dádiva de qualquer tipo (Tiago 1:17)...
Em segundo lugar, para entender o inferno, precisamos entender o pecado como escravidão. Romanos 1:21-25 nos diz que fomos criados para viver para Deus, mas em vez disso, vivemos buscando sentido e valor através de amor, trabalho, realizações ou moralidade. Assim, todas as pessoas, sejam religiosas ou não, estão adorando a alguma coisa – ídolos, pseudo-salvadores – para obter valor. Mas essas coisas nos escravizam com culpa (se não conseguirmos atingi-las), raiva (se formos impedidos por alguém de atingi-las), medo (se elas forem ameaçadas) ou com compulsão (já que sentimos que precisamos tê-las). Culpa, raiva e medo são como fogo que nos destrói. Pecado é adorar a qualquer coisa que não seja Jesus – e o salário do pecado é a escravidão.

Talvez o maior paradoxo de todos seja o fato de que as pessoas no ônibus vindo do inferno, da obra de Lewis, estão escravizadas porque escolheram isso livremente. Elas preferiram ter sua liberdade (a ideia que têm de liberdade) do que a salvação. Seu grande erro foi acreditar que ao glorificarem a Deus, perderiam sua grandeza humana (Gênesis 3:4-5), mas foi justamente a escolha que fizeram que arruinou essa grandeza. O inferno é, como diz Lewis, "o maior sepulcro à liberdade humana".


2. O inferno é menos exclusivo do que a chamada tolerância. Nada é mais característico da mentalidade moderna do que a afirmação: "Eu acho Cristo legal, mas acredito que um muçulmano ou budista devoto, ou até mesmo um ateu podem encontrar a Deus". Uma versão ligeiramente diferente é: "Eu não acredito que Deus mandaria uma pessoa boa para o inferno só porque ela não escolheu a crença certa". Essa abordagem é vista como mais inclusiva.
Então, ao pregar sobre o inferno, eu preciso combater esse argumento:
"A religião universal da humanidade é: nós desenvolvemos um bom histórico, o entregamos a Deus, e então ele fica nos devendo. O evangelho é: Deus desenvolve um bom histórico e nos dá e, então, nós, devemos a ele (Romanos 1:17). Em suma, dizer que uma pessoa boa, e não apenas os cristãos, podem encontrar a Deus, é o mesmo que dizer que boas obras são suficientes para encontra-lo.
Você pode não acreditar que a fé em Cristo seja necessária, ou pode acreditar que somos salvos pela graça, mas não pode acreditar nas duas coisas ao mesmo tempo. Portanto, a abordagem aparentemente inclusiva, é na verdade bastante exclusiva. Ela diz: 'As pessoas boas podem encontrar a Deus, as más, não'. Mas e nós, fracassos morais? Nós estamos excluídos.

O evangelho diz: 'As pessoas que sabem que não são boas, podem encontrar a Deus, as que pensam que são boas, não'.
Então o que acontece com aqueles que não são cristãos, os quais devem, por definição, acreditar que seus esforços morais o ajudarão a alcançar a Deus? Também estão excluídos.
Portanto, ambas as abordagens são exclusivas, mas o evangelho possui a exclusividade mais inclusiva. Ele diz alegremente: 'Não importa quem você é, ou o que você fez. Não importa se já esteve às portas do inferno. Você é bem-vindo e totalmente aceito através de Cristo'."


3. A visão cristã do inferno é mais pessoal do que a visão alternativa. Com bastante frequência, encontro pessoas que dizem: "Eu tenho um relacionamento pessoal com um Deus amoroso, mas não creio em Jesus Cristo". "Por quê?", eu pergunto.
Elas respondem: "Porque o meu Deus é amoroso demais para derramar sofrimento infinito em quem quer que seja por causa do pecado".
Mas, uma questão permanece: "O que custou a esse Deus nos amar e aceitar? O que ele suportou, a fim de nos receber? Onde esse Deus agonizou e clamou? Onde estavam seus pregos e espinhos?
A única resposta que recebo é: "Não acho que isso era necessário".
Que irônico. Em nosso esforço para tornarmos Deus mais amoroso, acabamos por torna-lo menos amoroso. Seu amor, no final das contas, não precisava tomar nenhuma atitude. Tratava-se de sentimentalismo, e não de amor. A adoração a um Deus assim seria impessoal, cognitiva, ética. Não haveria uma entrega alegre, uma ousadia humilde e nem um sentimento constante de admiração. Não cantaríamos a tal ser: "Amor tão incrível, tão divino, exige minha alma, minha vida, meu tudo".
A "sensível" abordagem pós-moderna ao assunto do inferno é, na verdade, bastante impessoal. Ela diz: "Não importa se você crê na pessoa de Cristo, contanto que você siga o seu exemplo".

Mas afirmar isso é dizer que a essência da religião é intelectual e ética, e não pessoal. Se qualquer pessoa boa pode encontrar a Deus, então o núcleo essencial da religião é entender e seguir regras.
Quando prego sobre o inferno tento mostrar como esse ponto de vista é impessoal:
"Dizer que qualquer pessoa boa pode encontrar a Deus é criar uma religião sem lágrimas, sem experiência, sem contato.
Com certeza o entendimento de verdades e princípios é fundamental ao evangelho, mas esse evangelho é muito mais do que isso. A essência da salvação é conhecer uma Pessoa (João 17:3). Ao conhecer essa Pessoa, há arrependimento, choro, alegria e encontro. O evangelho nos chama a um relacionamento íntimo e apaixonado com Jesus Cristo, e chama isso de 'o cerne da verdadeira salvação'."


4. Não existe amor sem ira. O que incomoda as pessoas é a ideia do julgamento e da ira de Deus: "Não consigo acreditar em um Deus que envia as pessoas para sofrerem eternamente. Que tipo de Deus amoroso é cheio de ira?"
Por isso, ao pregar sobre o inferno, é preciso explicar às pessoas que um Deus sem ira, não pode ser amoroso. Foi assim que tentei explicar isso em um sermão:
"Quando ouço esse tipo de pergunta, respondo que qualquer pessoa amorosa, se ira. Em Hope has its reasons, Becky Pippert escreve: 'Pense em como nos sentimos quando vemos alguém que amamos devastado por relacionamentos ou atitudes insensatas. Reagimos com tolerância benigna, como faríamos com um estranho? Longe disso... A raiva não é o oposto do amor. O ódio é. E a pior expressão de ódio é a indiferença'.
Pippert então cita E. H. Gifford, 'Aqui, o amor humano oferece uma verdadeira analogia: quanto mais um pai ama seu filho, mais ele odeia que esse filho seja um bêbado, um mentiroso, um traidor'.

Ela conclui: 'Se eu, uma pecadora falha e narcisista, posso sentir tanta dor e raiva em relação à condição de alguém, quanto mais um Deus moralmente perfeito, que as criou? A ira de Deus não é uma explosão zangada, mas sim uma oposição a esse câncer que é o pecado, que está comendo as vísceras da raça humana, que ele tanto ama'.


Um Deus como esse
Após um sermão sobre a parábola de Lázaro e do homem rico, a sessão de perguntas e respostas ficou lotada, com um número de pessoas maior do que o habitual. As perguntas e comentários foram voltados ao tema do juízo eterno.
Partiu meu coração quando uma jovem universitária disse: "Eu tenho ido à igreja minha vida inteira, mas acho que não consigo acreditar em um Deus assim". Seu tom era mais triste do que rebelde, mas a sua disposição de ficar e conversar mostrou que sua mente estava aberta.
Normalmente, todas as perguntas são voltadas a mim, e eu tento responder a todos da melhor maneira possível. Mas nessa ocasião, as pessoas começaram a responder uns aos outros.
Uma empresária mais velha disse: "Bem, eu nunca fui muito à igreja, e estou em choque. Eu sempre detestei a ideia de inferno, mas nunca havia pensado nisso como uma medida do que Deus estava disposto a suportar por amor a mim".
Em seguida, um cristão maduro fez uma ligação desse assunto com uma pregação feita no mês anterior, sobre Jesus no túmulo de Lázaro, em João 11. "O texto nos diz que Jesus chorou", ele disse. "mas também ficou extremamente irritado com o mal. Isso me ajudou. Ele não é apenas um Deus irado, ou amoroso – ele é as duas coisas. Ele não apenas julga o mal, mas também assume o inferno e o julgamento por nós, na cruz".
A mulher concordou: "Sim, eu sempre pensei que o inferno mostrava como Deus estava zangado conosco, mas não sabia que também mostrava o quanto ele estava disposto a sofrer e chorar por nós. Nunca me dei conta do quanto o inferno nos fala sobre o amor de Jesus. É muito comovente".

É somente graças à doutrina do juízo e do inferno, que o anúncio da graça e do amor de Jesus é tão brilhante e surpreendente.

Persegição a cristãos intensificou-se em 2013

Neste mapa fornecido pela Watch List Mundial, rosa escuro = extrema perseguição, rosa claro = severa perseguição e dourado = perseguição moderada. (Portas Abertas)

Clique aqui para ver a Lista World Watch de 2014, com informação resumida, do Top 50 dos países do mundo que mais perseguem cristãos.

Nota: a missão CLC opera em 11 destes 50 países!

Pode ler o artigo na íntegra (em Inglês) clicando aqui.

Fonte: http://www.worldwatchmonitor.org

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O advento da humildade


O advento da humildade

A humildade é tão tímida! Se começamos a falar sobre ela, já não existe mais.
Se nos perguntarmos 'sou humilde?', já não o somos mais.

22 Junho 2011, Escrito por  Tim Keller, Publicado em Espiritualidade na CristianismoHoje

Inúmeros teólogos, estudiosos e admiradores ressaltam as circunstâncias humildes do nascimento de Jesus: entre pastores, num tosco estábulo, um cocho servindo de berço. Quando Jesus tentou resumir por que as pessoas deveriam tomar a sua cruz ao segui-lo, disse que era por ele ser manso e humilde (Mt 11:29). Raramente, no entanto, exploramos todas as implicações da humildade radical de Jesus para nosso viver diário.

A humildade é crucial aos cristãos. Só podemos receber Cristo por meio da mansidão e humildade (Mt 5:3,5; 18:3,4). Jesus humilhou-se a si mesmo e foi exaltado por Deus (Fl 2:8-9); portanto, a alegria e a força por meio da humildade é a verdadeira dinâmica da vida cristã (Lc 14:11; 18:14; I Pe 5:5).

O ensino parece simples e óbvio. O problema é que precisamos de muita humildade para entender a humildade e de muito mais para resistir ao orgulho que vem tão naturalmente com a discussão deste assunto.

Estamos num terreno escorregadio, pois a humildade não pode ser alcançada diretamente. Uma vez que nos tornamos conscientes do veneno do orgulho, começamos a percebê-lo ao nosso redor, tanto nos tons sarcásticos e peçonhentos das colunas de jornais e blogs quanto nos nossos vizinhos e alguns amigos ciumentos, autopiedosos e ostensivos.

Então prometemos não falar ou agir dessa forma. Se percebermos “uma modesta mudança de atitude” em nós mesmos, imediatamente nos tornamos presunçosos – mas isso é o orgulho em nossa humildade. Se nos pegamos fazendo a mesma coisa de novo, ficaremos particularmente impressionados com quão sugestivos e sutis nos tornamos.

A humildade é tão tímida! Se começamos a falar sobre ela, já não existe mais. Se nos perguntarmos “sou humilde?”, já não o somos mais. Examinar nosso próprio coração, até por orgulho, geralmente nos leva a ter orgulho de nossa diligência e circunspecção.

A humildade cristã não significa pensar menos em si. É pensar menos de si, como tão memoravelmente disse C.S. Lewis. É não ficar o tempo todo observando a si próprio ou como você está se saindo com alguma coisa ou de que forma está sendo ameaçado. É um “auto-esquecimento abençoado”.

A humildade é subproduto de crermos no evangelho de Cristo. No evangelho, temos uma confiança não baseada em nosso desempenho, mas no amor de Deus em Cristo (Rm 3:22-24). Isso nos liberta de ter de ficar sempre nos avaliando. Porque Jesus teve de morrer por nós, colocamo-nos abaixo de nosso orgulho. Porque Jesus teve prazer em morrer por nós, amamo-nos além da necessidade de provar qualquer coisa a nós.

Graça, não benevolência – Corremos riscos quando discutimos sobre a humildade, pois a religião e a moralidade inibem a humildade. É comum na comunidade evangélica conversar sobre o ponto de vista mundano – um conjunto de crenças básicas e promessas que permeiam a maneira como vivemos em cada circunstância. Outros preferem o termo “identidade narrativa”. É um conjunto de respostas às perguntas “quem sou eu? O que é a minha vida? Por que estou aqui? Quais são as principais barreiras que me impedem de me sentir pleno? Como posso lidar com essas barreiras?”.

Há duas identidades narrativas básicas em voga entre os que professam ser cristãos. A primeira é o que chamo de identidade narrativa de desempenho moral: as pessoas que dizem do fundo de seus corações “eu obedeço, portanto, sou aceito por Deus”. A segunda é o que vou chamar de identidade narrativa da graça. O princípio básico dessa operação é “sou aceito por Deus por meio de Cristo, portanto, obedeço”.

As pessoas que vivem sobre as bases desses dois princípios diferentes podem superficialmente se parecerem iguais. Podem se sentar bem ao lado uma da outra num banco de igreja, esforçando-se para obedecer à lei de Deus, orar, dar dinheiro generosamente, ser bom com os membros familiares. Mas, no fundo, estão fazendo por motivos radicalmente diferentes, com inspirações radicalmente diferentes, resultando em caracteres de personalidade radicalmente diferentes.

Quando as pessoas que vivem baseadas numa narrativa de desempenho moral são criticadas, ficam furiosas ou devastadas, porque não conseguem tolerar as ameaças às suas auto-imagens de serem “boas pessoas”.

No evangelho, nossa identidade não é construída sobre esse tipo de imagem e temos um peso emocional de ter que lidar com a crítica sem dar o troco. Quando as pessoas vivem firmadas na narrativa de desempenho moral, baseiam seu valor próprio por serem trabalhadoras ou teologicamente irrepreensíveis e, então, precisam desprezar aquelas que são consideradas preguiçosas ou teologicamente fracas.

Mas há aqueles que entendem que, de acordo com o evangelho, não se pode desprezar ninguém, pois foram salvas por pura graça, não por suas doutrinas perfeitas ou forte caráter moral.

O fedor do moralismo – Outra marca da narrativa de desempenho moral é a constante necessidade de encontrar falhas, vencer argumentos e provar que todos os seus oponentes não estão somente enganados, mas são traidores desonestos. No entanto, quando o evangelho é compreendido profundamente, nossa necessidade de vencer argumentos é dispensada e nossa linguagem se torna graciosa. Não precisamos ridicularizar nossos oponentes e passamos a lidar com eles respeitosamente.

As pessoas que vivem baseadas na narrativa de desempenho moral se valem de um humor sarcástico e farisaico ou não têm nenhum senso de humor. Lewis fala de “uma concentração sisuda sobre si próprio, que é a marca do inferno”. O evangelho, entretanto, cria um senso gentil da ironia. Encontramos motivos para rir, a começar pelas nossas fraquezas. Elas já não nos ameaçam mais, pois nosso valor derradeiro não está baseado em nossos recordes ou bons desempenhos.

Um discernimento básico de Martinho Lutero foi que o moralismo é um defeito do coração humano. Mesmo os cristãos que acreditam no evangelho da graça em primeira instância podem continuar a operar como se tivessem sido salvos por seus próprios méritos. Em “O grande pecado”, na obra Cristianismo puro e simples, Lewis escreve: “Se achamos que a nossa vida religiosa está nos fazendo sentir que somos bons – e acima de tudo, que somos melhores que os outros – creio que podemos ter a certeza de estar agindo não de acordo com Deus, mas com o diabo”.

Graça e humildade que nos levam a esquecer de nós mesmos deveriam ser as coisas preliminares a distinguir os cristãos de muitos outros tipos de pessoas morais e decentes do mundo. Mas acho que é justo dizer que a humildade, principal marca diferenciadora do cristão, está muito em falta na igreja. Os não crentes, ao detectar o fedor do moralismo, vão embora.

Alguns podem dizer “o farisaísmo e o moralismo não são nossos maiores problemas culturais no momento. Nossos problemas são a liberdade e o antinomianismo. Não há necessidade de falar sobre a graça o tempo todo para pós-modernizar as pessoas”. Mas as pessoas pós-modernas têm rejeitado o cristianismo durante anos, achando que não é diferente do moralismo. Somente se você mostrar-lhes que há uma diferença – o que eles rejeitaram não era o verdadeiro cristianismo – talvez, então, elas comecem a ouvir novamente.

Renove sua humildade aqui – Esse é o ponto em que o autor deve apontar soluções práticas. Não tenho nenhuma. Aqui vão os porquês.

Primeiro, o problema é muito grande para soluções práticas. A ala da igreja que está mais preocupada com a perda da verdade e com comprometimentos é, na verdade, infame em nossa cultura por seu farisaísmo e orgulho. Entretanto, há muitos em nossos círculos que, reagindo ao que eles entendem por arrogância, desviam-se das muitas doutrinas protestantes clássicas (como Justificação Legal e Reparação Substitutiva) que são cruciais e insubstituíveis – e também dos melhores recursos possíveis para a humildade.

Segundo, falar diretamente sobre maneiras práticas de se tornar modesto, tanto a indivíduos como comunidades, é sempre um tiro pela culatra. Afirmei que as principais alas da igreja evangélica estão erradas. Então quem sobra? Eu? Estou começando a pensar que somente poucos, os poucos felizes, alcançaram o equilíbrio de que tanto a igreja precisa? Acho que estou ouvindo algo murmurando em meus ouvidos: “sim, apenas você pode realmente ver as coisas com clareza”.

Realmente espero esclarecer, ou nem teria escrito sobre esse assunto. Mas não há maneira de se começar a falar às pessoas sobre como se tornar modesto sem destruir os fragmentos de humildade que elas possam já possuir.

Terceiro, a humildade só é alcançada como um produto derivado do entendimento, da crença e do maravilhamento sobre o evangelho da graça. Mas o evangelho não nos modifica de modo mecânico. Recentemente, ouvi um sociólogo dizer que, para a maior parte, as estruturas de significado para as quais direcionamos nossas vidas estão tão profundamente intrínsecas em nós que operam “pré-refletivamente”. Não existem apenas como uma lista de proposições, mas também como temas, motivos e atitudes. Quando ouvimos o evangelho sendo pregado ou meditamos nas escrituras, estamos sendo levados tão profundamente aos nossos corações, imaginações e pensamentos que começamos a instintivamente “viver” o evangelho.

Então vamos pregar sobre a graça até que a humildade comece a crescer em nós.

Tim Keller é pastor da Igreja Presbiteriana Redeemer em Manhattan, Nova York, e autor de diversos livros.


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terça-feira, 8 de outubro de 2013

A alegria cristã

Fonte: Ultimato

O povo de Deus é alegre por definição. O cristão é alguém que foi encontrado por aquele que é feliz e recuperou a sua posição como filho. Para os cristãos, a alegria não é só uma opção de vida. É uma ordem de Deus ao seu povo; é um bom testemunho; é pré-evangelização; é coerência.

O mandamento da alegria está espalhado nas Escrituras Sagradas: nos livros da lei (Dt 16.11), nos Salmos (Sl 32.11), nos profetas (Zc 9.9), nos Evangelhos (Lc 10.20), nas Epístolas (Fp 4.4) e no Apocalipse (Ap 19.7). A alegria é também fruto do Espírito (Gl 5.22), é consequência do perdão e da salvação (Lc 10.20), é promessa a ser totalmente contemplada no futuro (Hb 11.39-40), é combustível e celebração da missão (Sl 126.6; Lc 15.7).

Certamente, algumas vezes terá de ser uma alegria disciplinada, baseada em promessas e em exercícios de fé. A despeito de ser -- por natureza -- feliz, cabe ao cristão desenvolver esta alegria. Isto pode ser feito por meio do exercício de um espírito grato (aqueles que julgam que a vida lhes deve alguma coisa são incapazes de ser felizes), pela lembrança constante das promessas do Senhor, pelo encontro amoroso com os irmãos e irmãs, pela contemplação da Criação, pela memória de Cristo e de sua beleza, pela comunhão diária com Deus por meio da oração e da leitura bíblica, pela vivência do discipulado cristão, pelo “enchimento” do Espírito.

Por causa do pecado, da depravação humana, da ordem política e social injusta, da incredulidade, da atuação satânica, do orgulho humano, da fome e da miséria, das vicissitudes naturais da vida, da enfermidade e da morte, da rejeição do evangelho -- nem todo tempo é tempo de alegria. A Bíblia ressalta esta verdade: “[Há] tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de saltar de alegria” (Ec 3.4).

Além disto, somos ainda seres incompletos, ambíguos, divididos. Um dos efeitos da queda é que nossas emoções nem sempre acompanham nossas certezas. A variação de humor que não dominamos continuará a ser nossa companheira até o final da vida. A plenitude da alegria não é para agora. A garantia de bem-estar permanente não é uma promessa cristã.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A informação que corrompe versus a fé vem pelo ouvir

Artigo de Ariovaldo Ramos

Há quem diga que o ser humano é o que pensa. Se o ser humano não é o que pensa, certamente, age do que pensa, e pensa do que ouve. Na fala em Mt 16.5-12, Jesus diz que é necessário tomar cuidado com o que se ouve.

É curioso, mas, agimos muito mais pelo que ouvimos, do que pelo que vemos ou constatamos. Talvez, porque ver exija sincronização, a pessoa teria de estar, de alguma forma, no local, no momento do ocorrido; etalvez porque constatar demande muito trabalho.

“A fé vem pelo ouvir”, disse Paulo (Rm 10.17). A fé verdadeira vem de ouvir da Palavra de Deus. Mas a história humana dá conta de que, para o ser humano desenvolver crença, basta ouvir; o que coloca um peso de responsabilidade incomensurável sobre quem fala.

Tudo, nos diz a Bíblia, nasce da palavra, e, como se comprova na história, pelas falas a sociedade é construída.

Jesus sabia que os humanos são ávidos por informação. Não pela informação em si, mas, pelo poder que saber mais do que o outro confere ao informado. O tal desejo de ser como Deus (Gn 3.5). Mas todo aquele que deseja o poder predispõe-se a cair em ciladas (1 Tm 6.9).

Deve ser por isso que Jesus adverte seus alunos a se acautelarem das doutrinas dos fariseus e dos saduceus. Pois, não dá para imaginar que tais doutrinas, e tais doutrinadores pudessem competir com os ensinos e a maestria de Jesus.

Jesus, todavia, sabia que o ser humano é corruptível. Jesus sabia que a má informação, corrompe. Jesus sabia, também, que a palavra que corrompe é a palavra que foi corrompida. Jesus sabia que mesmo a palavra vinda de Deus poderia ser corrompida.

Interessante, os saduceus e os fariseus representavam extremos da fé judaica. Os saduceus aceitavam parte da Bíblia, os fariseus aceitavam a Bíblia toda. Os saduceus enfatizavam as atividades no templo como o cerne da fé; os fariseus enfatizavam o moralismo como cumprimento da lei. Ambos, porém, ensinavam o erro. Os saduceus não viram que os sacrifícios falavam da necessidade do sacrifício definitivo; os fariseus não viram que a lei apontava para a necessidade de haver um salvador.

No erro, os extremos se encontravam e se tornavam uma coisa só: informação que corrompe. Como distinguir que laboravam em erro, se eram, entre si, opostos, de tão distantes e antitéticos? Eles se encontravam na incapacidade de reconhecer o Cristo e de fazer o Cristo reconhecido.

Continua assim: todo ensino que, pretensamente, nascido da Bíblia, não reconheça o Cristo, que é o sacrifício que nos traz a salvação, e o esvaziamento e a doação que nos estabelece o padrão para viver, e não aponte o Cristo como o centro da fé, se tornou informação que corrompe.


Ariovaldo Ramos é escritor, articulista e conferencista sobre a missão da igreja. Foi presidente da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), missionário da SEPAL. Atualmente é presidente da Visão Mundial no Brasil e um dos presbíteros da Comunidade Cristã Reformada, em São Paulo (SP). 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A Igreja de todos nós

Autor: Osmar Ludovico

Ficar na igreja visível, em comunhão com o povo de Deus, é um ato de fidelidade e humildade.Temos ouvido muitas críticas à Igreja Evangélica brasileira. E boa parte delas – algumas leves, outras mais pesadas – eclode de suas próprias entranhas. Enquanto alguns acham que vivemos um avivamento espiritual, dado o expressivo crescimento numérico, outros acreditam que vivemos um sério desvio do Evangelho, face ao esvaziamento ético e às teologias equivocadas que têm sido pregadas em tantos púlpitos.

Encontramos muitos crentes feridos pelo legalismo. São muitas, também, as histórias de abuso espiritual, bem como os escândalos de líderes que enriqueceram no ministério. Quais de nós, crentes em Jesus, já não nos descobrimos olhando criticamente para a igreja, participando até de conversas cujo teor é maledicente em relação a ela?

Além de pedirmos a misericórdia do Senhor, é preciso entender que esse ente místico chamado Igreja é o Corpo de Cristo, mas é, também, formada por todos nós. Olhamos para a instituição eclesiástica e vemos muitos defeitos, o que é normal, posto que ela é, também, humana. Muitas vezes perdemos de vista, contudo, que Igreja é povo de Deus, e dele fazem parte todos os que creram em Jesus.

É o próprio Espírito Santo que nos insere no Corpo, dando-nos um sentimento de pertencimento a esse povo. Logo, igreja somos todos nós, o povo de Deus que se reúne em torno de uma determinada instituição. Portanto, ao invés de simplesmente reclamarmos, criticarmos e trocarmos de igreja, hoje temos a oportunidade de ser criativos na busca de projetos eclesiais de formação espiritual, que resultem em homens e mulheres transformados, mais santos, mais servos, mais afetivos.

A história da Igreja já conta dois mil anos. Uma trajetória que registra muitas crises, muitos desvios, mas que, apesar disso, sempre manteve um testemunho de fé e de obediência. Deus nunca desistiu de seu povo, e vemos isto nas Escrituras. A Igreja em Corinto tinha problemas enormes: divisões, imaturidade, prática de pecados como idolatria, impureza sexual e incesto.

Ali aconteciam disputas entre fiéis que chegavam até aos tribunais, bebedeira no culto e uso equivocado de dons espirituais. Entretanto, Paulo diz: “Porque zelo por vós com zelo de Deus, visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo” (II Co 11.2). O noivo da Igreja, Jesus Cristo, se mantém fiel até mesmo a uma comunidade como a de Corinto. Sim, apesar da desobediência e da infidelidade de seus filhos, Deus não vai desistir dos seus eleitos, sejam eles ortodoxos, católicos ou reformados.

O Credo dos Apóstolos, ou Credo Niceno, base de fé da Igreja, afirma crer em Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, na santa igreja universal, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna. Assim professamos nossa fé:crendo em um só Deus – Pai, Filho e Espírito Santo –, mas, também, cremos que, do Pentecostes até a volta do Salvador, haverá uma só Igreja, isto é, uma comunhão universal e local de homens e mulheres que creem e adoram, pela verdadeira fé, o Senhor Jesus Cristo.

Esta Igreja é universal e compreende todos os crentes de todos os tempos e nações que têm comunhão com o Pai, através de Jesus Cristo, e são santificados pelo Espírito Santo. Tal Igreja é invisível, conhecida só de Deus, e se expressa de forma concreta na face da terra através de todas as confissões cristãs. Nesta Igreja, cremos.

Durante toda a história da Igreja, temos testemunhos de obediência e fé. Não poderia ser deferente na nossa época. Esse testemunho não se encontra na igreja que está na mídia, aquela que fala em conquista e busca visibilidade, mas na periferia, no anonimato. São milhares de pequenas igrejas, de pastores anônimos, de grupos que se encontram em locais variados.

É gente que busca a Deus apaixonadamente, que lê e se deixa ler pelas Escrituras, que está crescendo em todas as dimensões da vida – espiritual, emocional, relacional e social. Estes nunca deixaram de crer e amar a igreja; e, apesar de suas crises, dos seus erros e dos desmandos aqui e ali praticados, insistem em permanecer na igreja institucional. Existem muitas boas igrejas locais espalhadas pelo mundo.

Tenhamos, portanto, muito cuidado em falar mal do Corpo de Cristo. Ao contrário, perseveremos com santidade no serviço comunitário para evangelizar o mundo, edificar a Igreja e socorrer aos necessitados, procurando para eles alívio e justiça. Ficar na igreja visível, em comunhão com o povo de Deus, é um ato de fidelidade e humildade.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Meditação Cristã

Entrevista com Osmar Ludovico

A meditação cristã é foco da recente obra de Osmar Ludovico, Meditatio, publicada pela Editora Mundo Cristão. Osmar foi nosso convidado para uma entrevista sobre a importância dos momentos de silêncio e meditação na vida dos líderes cristãos, e como chegar nestes momentos, vivendo-os intensamente. Nos últimos trinta anos, Osmar pastoreou as Comunidades de Jesus em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Estudou no seminário Palavra da Vida, em Atibaia, e participou de cursos com John Stott, na Inglaterra, e com Hans Bürki, na Suíça. Atualmente dirige cursos de espiritualidade, revisão de vida e seminários para casais, pastores e missionários. Confira a entrevista:

Em suma, o que caracteriza a meditação bíblica?

Osmar Ludovico - A meditação cristã é uma das mais significativas páginas da História da Igreja. Foi muito utilizada e praticada pela Monástica e  sistematizada na Lectio Divina pelo monge cartuxo Guigo II (1173-1180). Hoje é também conhecida como Meditação Cristã ou Leitura Orante das Escrituras. Guigo II utiliza a idéia de uma escada para a prática da Lectio Divina, sugerindo uma subida para um encontro no alto, no monte de Deus e logo uma descida para um encontro nas profundezas, no fundo do coração.

E quais seriam os “degraus” desta escada?

Osmar Ludovico - Statio (preparação), Lectio (leitura), Meditatio (meditação), Oratio (oração), Contemplatio (contemplação), Discretio (discernimento), Collatio (compartilhar) e Actio (ação) são os degraus desta milenar tradição de ler a Bíblia. Estes passos constituem um movimento integrado em que cada degrau conduz ao outro. Lentamente, saboreando cada passo, em direção ao topo para em seguida descer ao vale, voltar ao concreto e ao cotidiano. Assim diz Guido: “A leitura – Lectio – é o estudo atento da Escritura feito com um espírito totalmente orientado para sua compreensão. A meditação – Meditatio – é uma operação da inteligência, que se concentra com a ajuda da razão, na investigação das verdades escondidas. A oração – Oratio – é voltar com fervor o próprio coração para Deus para evitar o mal e chegar ao bem. A contemplação – Contemplatio – é uma elevação da alma que se levanta acima de si mesma para Deus, saboreando as alegrias da eterna doçura. E completa: “A leitura leva à boca o alimento sólido, a meditação corta-o e mastiga-o, a oração saboreia-o, a contemplação é a própria doçura que alegra e recria”.

Então não se trata de simplesmente realizar um estudo bíblico?

Osmar Ludovico - Não. O objetivo não é um estudo bíblico ou uma exegese. É leitura bíblica que nos conduz a uma experiência de encontro com Deus e a uma experiência de oração., como descrito em Êxodo 33.11: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer um fala ao seu amigo”. O propósito da Lectio Divina não é, simplesmente, aumentar o nosso conhecimento intelectual, mas nos levar a um encontro vivo com Jesus Cristo. Tal encontro não nos deixa ilesos, mas faz com que nossa pobreza espiritual aflore, nossos pecados venham a tona, bem como nos indica o caminha da transformação de nossas vidas.

Qual o maior benefício que os momentos de silêncio, recolhimento e meditação podem trazer à vida e ao ministério dos pastores e líderes cristãos, geralmente tomados pelo ativismo das programações e responsabilidades ministeriais?

Osmar Ludovico - Somente quando entramos numa silenciosa e solitária é que somos levados ao coração de nós mesmos e ao coração de Deus. Aí sintonizamos com a presença silenciosa de Deus em nós, numa relação de amor, onde somos acolhidos e amados. Deste lugar sereno, no fundo da nossa alma, na solitude e no silêncio, jorra uma fonte de eterna satisfação e alegria, que nos conduz à experiência amorosa e livre de encontro com o outro, o meu semelhante. É só quando sei estar sozinho diante da face silenciosa e amorosa de Deus, é que minha narrativa é transformada, minha linguagem deixa de ser explicativa, argumentativa para se tornar a linguagem da intimidade.

Sites de buscas, que nos levam em segundos aos milhares de sites de estudos bíblicos e sermões prontos, bíblias cada vez mais completas e diversificadas...O senhor acredita que tantos recursos disponíveis hoje aos pastores e líderes os têm afastado deste caráter meditativo sobre a Palavra de Deus?

Osmar Ludovico - Acredito que sim. O ministério é baseado em técnicas e produção mental. Perdeu-se a dimensão da intimidade e do coração. Na maior parte do tempo, os programas de treinamento e capacitação são baseados em técnicas seculares para aprimorar habilidades, aumentar o desempenho e maximizar os resultados. Ou seja, um conceito de mercado. A proposta e a linguagem destes programas é, geralmente, distante do projeto de Jesus de Nazaré. Com isto, corremos o risco de ver uma geração de pastores eficientes no domínio de técnicas de gerenciamento, marketing e formação de equipes vencedoras, mas com uma vida espiritual e familiar precárias.

Sua obra Meditatio (brevemente disponível) reúne vários textos gerados em seus momentos de silêncio e meditação. O senhor comenta sobre Davi, que escrevia seus sentimentos e canções, que compõem o livro de Salmos. Escrever, registrando o que se medita nos momentos de silêncio, deve ser uma prática na vida dos pastores?

Osmar Ludovico - Não quero dar receitas, mas simplesmente lembrar que a revelação de Deus se apóia numa palavra que foi escrita. Escrever nossas orações nos ajuda a sermos mais específicos, a sermos mais poéticos, e ao longo do tempo possibilita um acompanhamento do nosso itinerário biográfico, emocional e espiritual.  Aprendemos a orar com os Salmos, que é um diário de orações de homens como Davi, Core e Moisés. Estes salmos nos conduzem ao centro da oração: o temor, o desejo, os afetos, a realidade humana. Temor não é medo que afasta, mas uma profunda reverencia e respeito diante daquele que não compreendemos completamente, daquele que se revela, mas que continua envolto no mistério, pois não suportaríamos sua presença plena. É o inefável, o inominável, o inescrutável. O desejo porque fazemos contato com aquela saudade infinita escondida no nosso coração e lançamos sobre Deus todo nossa busca existencial e espiritual como o náufrago se agarra à bóia. O afeto porque Deus é amor, é Trindade Santa, Pai, Filho e Espírito Santo intimamente ligados e interpenetrados. Deus que subsiste em si mesmo amando entre os três, e desejando que o amemos e que vivamos amorosamente entre nós. E finalmente porque tudo isto se situa além do racional e do cognitivo. A oração é poesia, é cântico. É feita de metáforas como alguém que, tendo visitado um país estranho e desconhecido, só pode contar aquilo que viu através de comparações.

Com tantos anos de experiência como pastor, o senhor tem algum conselho para que os pastores consigam se “desligar” dos problemas das ovelhas, das solicitações, dos convites...e simplesmente se aquietarem para ouvir a Deus?

Osmar Ludovico - O ativismo é fruto de um coração inquieto e ambicioso. Resgatar o tempo sabático, isto é, parar para celebrar a vida, sem nenhum compromisso, trabalho ou solicitação é um mandamento do Deus. Jeremias 31.3 fala do amor eterno, sem pressa. Deus anda lentamente porque é eterno, não tem a limitação da cronologia. Na mitologia grega o deus Cronos devora seus filhos. O amor tem seu ritmo, precisa de tempo, de um ritmo interior, diferente a velocidade tecnológica dos computadores e do fast-food. Tudo que é mais profundo é lento, é diferente das soluções mágicas e instantâneas, precisa de tempo. A ternura não pode ser dada rapidamente, amizades precisam de tempo para se consolidar, e o perdão é um processo que demanda paciência. Para trilhar um caminho de intimidade e da escuta mais profunda precisamos desacelerar, andar num outro ritmo, sair do frenesi, da euforia e da agitação que nos fragmenta. Significa estar inteiro em cada encontro, em cada palavra, em cada sorriso, em cada lágrima, remindo o tempo e alcançando um coração sábio, pois o tempo é fugaz e o que realmente importa é o quanto nós amamos e fomos amados. Invocar a graça e a ternura eterna de Deus sobre a minha vida é entrar no tempo do descanso, no Schabat, na salvação, no Shalon de Deus, na plenitude.

Fonte: www.institutojetro.com
Título do artigo: Meditação cristã
Autor: Osmar Ludovico

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Temos medo de estar sós!

Artigo de Osmar Ludovico

O Secreto

As Escrituras afirmam que somos o templo ou a morada do Espírito Santo. O templo é um lugar de encontro, onde o homem encontra Deus. Dentro de nós, na interioridade e na intimidade de nossa alma, Deus se encontra. O Deus vivo e verdadeiro se faz acessível através de seu amor pelos homens. Assim, torna-se possível esta união da alma do pecador com o Espírito de Deus, uma verdade que se dá no íntimo, na dimensão do vínculo e do encontro. União não é fusão ou confusão. Não é panteísta, pois embora “um” comigo, Deus continua o Deus Todo-poderoso.

Apesar de “um” com ele, continuamos indivíduos; não somos absorvidos, mas entre nós e Deus continua havendo uma relação eu/tu, pessoa a pessoa. O teste sublime desta unidade é que quanto mais eu sou um com Deus, mais eu posso ser eu mesmo.

A espiritualidade cristã implica na alma apegada a Deus, isto é, passa do discurso lógico e racional para o discurso afetivo, o discurso do coração. Implica em entrega, em vulnerabilidade, em abandono na presença do Deus vivo. Carlos Hernandez nos ensina acerca de Maria como exemplo de fé. Quando ela diz: “Aqui está a serva do Senhor, que assim se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 1.38), ela literalmente está dizendo: “Eis aqui o meu útero, assim se cumpra em mim conforme a tua palavra”. Nesta vulnerabilidade, neste abandono nas mãos de Deus, Maria se entrega e se deixa “envolver pela sombra do Altíssimo”(Lc 1.34). Através desta presença fertilizadora de Deus, Maria se torna grávida de Jesus, o Salvador de todos os homens.

Uma alma apegada a Deus significa esta disponibilidade, esta vulnerabilidade e abandono, para que a presença fertilizadora de Deus nos envolva e nos torne grávidos de “boas obras, as quais ele de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
No sermão da montanha, Jesus nos fala de três hábitos religiosos que estão em prática através dos séculos nas mais variadas religiões: dar esmolas, orar e jejuar (Mt 6).

Jesus não diz “você deve orar”, mas “quando pois fizeres”. Não é uma obrigação, mas uma escolha do coração; uma escolha de um tempo para estar com ele na intimidade. Somos livres para orar, mas se escolhermos orar, então Jesus Cristo tem um conselho para nós. Ele diz para entrar em nosso quarto, fechar a porta, tomar todas as providências para que ninguém nos surpreenda e, então, orar.
O secreto não é uma dimensão externa, de um lugar, mas também uma dimensão interna, no íntimo do coração, um refúgio. O Salmo 51.6 nos diz: “Eis que te comprazes na verdade no íntimo, e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria”. Dentro de nós, uma dimensão fora do plano do racional pragmático, um tempo de silêncio, de recolhimento e solitude diante de Deus.

A verdadeira oração, conforme o conselho de Jesus Cristo, é secreta, isto é, a eficiência espiritual se dá no íntimo da alma a partir de uma realidade que ninguém vê, ninguém conhece. Isto quer dizer que não pode se tornar uma técnica, não se pode aprender, não se pode ensinar. Trata-se de uma realidade íntima, que não vemos, não tocamos. Não podemos fazer cópia, comercializar, ganhar, dar, pegar, tomar. Para descobrir, basta entrar no quarto, fechar a porta, entrar no secreto...

Temos medo de estar sós.

Daí os muitos ruídos, as multidões, as torrentes de palavras e pensamentos. Rádios e televisões ligados vinte e quatro horas por dia. Entrar no secreto significa entrar no silêncio e na quietude. O secreto não é um lugar, mas um estado de consciência. No secreto não estamos sozinhos; aí nossa alma encontra o Deus vivo e verdadeiro.

E como fica a vida pública, o ministério, a salvação do mundo? Lembramo-nos de dois verbos importantes na vida cristã: edificar e dar frutos. Jesus nos ensina sobre as casas construídas na rocha e na areia (Mt 7.24-27). As casas nos mostram os dois aspectos da vida cristã: externamente, a casa, aquilo que se vê; internamente, os alicerces, aquilo que não se vê. O importante, diz Jesus, são os alicerces, que estão cobertos, não são vistos, estão na escuridão e nas profundezas – aí está a ideia do secreto.

Temos a mesma idéia na expressão “dar frutos” (Jo 15.16,). Sabemos da importância dos frutos na vida cristã, frutos de arrependimento, fruto do Espírito, fruto de boas obras. Uma árvore pode ter um tronco magnífico e folhas viçosas, mas se a raiz estiver afetada, a árvore vai morrer, ou então os seus frutos não serão consistentes.

A raiz precisa estar coberta, no escuro, nas profundezas, e beber nos mananciais de águas puras. Assim serão saudáveis e os frutos certamente virão.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A maravilha da natureza!

Artigo de Philip Yancey

Os salmistas tinham uma vantagem no louvor por seus laços estreitos com o mundo natural. Davi começou sua vida ao ar livre como pastor de ovelhas, depois passou anos escondido no terreno rochoso de Israel. Não é surpreendente que um grande amor, até mesmo reverência pelo mundo natural emane de muitos dos seus poemas. Os salmos apresentam um mundo que se encaixa como um todo, onde tudo é sustentado e preservado por um Deus que o vigia pessoalmente.

A natureza em sua infinidade anuncia aos nossos sentidos o esplendor de um Deus invisível e invencível. Como podemos não oferecer louvor àquele que engenhou porcos-espinhos e alces, que respingou álamos verdes luzentes por encostas de rochas cinzentas, que transforma a mesma paisagem em obra de arte a cada nevasca?

O mundo, na imaginação do salmista, não consegue conter o deleite que Deus inspira. “Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os confins da terra; aclamai, regozijai-vos e cantai louvores” (Salmo 98:4). A própria natureza se junta à celebração: “Os rios batam palmas, e juntos cantem de júbilo os montes” (v.8).

Os salmos resolvem de maneira maravilhosa o problema de uma cultura deficiente em louvor provendo as palavras necessárias. Precisamos simplesmente nos deixar envolver por estas palavras, permitindo que Deus use os salmos para realinhar nossas atitudes interiores.

Fonte: CREIO / Projeto AMIGOS

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Festa de casamento

Um casamento não é uma mera formalidade social, mas tem um significado bem mais profundo.

Primeiro, porque duas pessoas querem fazer votos, promessas e assumir compromissos um com o outro, diante de Deus, seus pais, seus parentes e seus amigos. Segundo, porque eles também desejam receber a bênção de Deus sobre sua união.

Trata-se de um momento de alegria, de encontro, de comida, bebida, bolo, danças. Surgem, então, emoções do fundo de nossa alma, emoções muitas vezes reprimidas pelas agruras do quotidiano.
Não há lugar melhor no mundo de se estar do que numa festa de casamento.

Há uma memória inconsciente escondida no fundo da nossa alma que se projeta para uma cena primordial na origem da vida humana. Naquele dia, o sexto dia, segundo o relato da criação, Deus fez adormecer o homem, e diante de uma natureza silenciosa e reverente, Ele cria a mulher. Despertado de seu sono, Adão declama o primeiro cântico da história humana: “Esta é afinal osso dos meus ossos, carne da minha carne, e será chamada mulher, porque do homem foi tirada”, Gn 2.23.

E caminharam juntos pelo jardim, uniram-se e se tornaram uma só carne.
Numa festa de casamento, nossa memória genética faz contato com esta idade da inocência no Jardim do Éden.

O que acontece então?

Somos tomados por uma misteriosa e intensa alegria. Uma alegria que contagia a todos nós. Nossa esperança é renovada. Alguns se emocionam e choram.
Olhamos para os nubentes e nos esquecemos das dificuldades do quotidiano, nossas esperanças são renovadas e, juntos, acreditamos que o amor é possível.
A esperança de sermos acolhidos, de pertencermos, de sermos reconhecidos, se renova em nossos corações.
Numa festa de casamento, por um momento, nos emocionamos com o amor, com a alegria e a disposição dos noivos, e mais uma vez acreditamos que o amor é possível, que o amor pode extrair o que há de melhor em nós.

Apesar das mazelas do mundo, nos sentimos melhores e, juntamente com os noivos, acreditamos que a nossa humanidade pode ser melhor.
É também porque numa festa de casamento tangenciamos de uma forma muito particular e intensa a presença de Deus e a presença do homem.
O divino e o humano. O sagrado e o profano. O eterno e o efémero. O amor absoluto e o amor humano. O perfeito e o imperfeito.

Esta presença divina era patente nas primeiras bodas no Jardim do Éden, nas bodas de Canaã, no diálogo de Cantares entre Salomão e Sulamita. O amor divino é a fonte e a origem de todos os amores humanos.
Então esta alegria contagiante, esta esperança renovada e esta crença no amor não têm a ver somente com a festa, mas com esta outra presença, a presença do divino, sagrado, do eterno, a presença de Deus em nosso meio.

Eventos festivos não duram. A festa acaba. Segunda-feira acordamos e enfrentamos as dificuldades da vida, e cada um tem as suas dores existenciais, emocionais, familiares, profissionais, físicas.
E a alegria, a esperança e o amor que experimentamos no dia da festa, de forma tão intensa, podem sucumbir.

Então, como proteger, como cuidar bem dessa alegria, dessa esperança e desse amor que vivemos no momento da festa?

Só mesmo se os votos que, feitos pelos noivos, servirem de ponte entre estas duas presenças, a presença de Deus e a presença humana.
Só mesmo se pudermos dizer de todo o coração, com toda a sinceridade, com toda a convicção: “Senhor, nosso Deus, é pra valer! O compromisso que assumimos hoje é para toda a vida, damos nossa palavra diante de Ti e diante dos homens. Queremos resistir a todos os desencontros e conflitos, queremos guardar a alegria no dia mau, queremos guardar esta esperança na hora do conflito”.

Podemos divergir, desencontrar, enfrentar tensões e conflitos inerentes a um relacionamento a dois. Podemos até mesmo encontrar aqueles sentimentos e desejos de desistência, de ruptura, tão próprios da nossa frágil humanidade e sua dificuldade de lidar com o conflito. Para então encontrar esta outra presença, diante de quem fizemos estes votos, a presença de Cristo, que a partir de seu amor incondicional nos ensina a perdoar, a nos reconciliar e permanecer na alegria, na esperança e no amor.

Artigo de Osmar Ludovico

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O que seria do amor sem o bom humor?


Amor e humor na família

Osmar Ludovico

Amor e humor são virtudes essenciais para o relacionamento entre homem e mulher, marido e esposa, adultos e crianças, pais e filhos.

Existe o amor romântico, a paixão, o sentimento. Este é volúvel, progride e regride velozmente, basta uma pequena mudança de atitude. Mas existe também o amor compromisso, que envolve a fidelidade e a estabilidade. O primeiro age nas nossas emoções; o segundo na nossa vontade. O amor inclui a emoção que faz palpitar o coração apaixonado e a vontade que segura o voto de permanecer unidos haja o que houver.

Somos emocionalmente instáveis, por isso nos estranhamos, nos irritamos, brigamos e acabamos cada qual no seu canto, nos sentindo incompreendidos e mal amados. A vontade e o voto nos chamam de volta à reconciliação através do perdão, nesta permanente dança do encontro-desencontro-reencontro.

O desejo de permanecer junto, apesar das diferenças e dos conflitos, nos livra de nos tornar desafeiçoados e vingativos. Permite, ao contrário, que, mesmo feridos, continuemos desejando o bem do outro e agindo de forma construtiva. Isto é, nos convida ao processo contínuo de nos re-apaixonarmos pela mesma pessoa muitas vezes ao longo de uma vida toda.

Deus nos revela seu amor, primeiro nos aceitando como somos e agindo sacrificialmente em nosso favor como diz as Escrituras: “Mas Deus prova seu amor para conosco, tendo Cristo morrido na cruz sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). E também através de sua fidelidade sem limites, pois seu amor permanece estável mesmo quando não o correspondemos (1 Tm 2.13). Assim, ao longo da vida aprendemos a amar como Ele nos amou.

Mas o que seria do amor sem o bom humor? A base da vida cristã consiste e reside nesta alegria de alma, uma alegria que brota da interioridade, e não das circunstâncias. Uma celebração íntima, um regozijo inexplicável no profundo de nosso ser, uma doce, leve e alegre constatação de que vivemos diante da face amorosa de Deus, que nos perdoa, nos aceita, nos recebe em sua presença. E faz de nós, pecadores, seus filhos amados. Amar e ser amado é o glorioso destino do ser humano, e amar e ser amado por Deus e pelo seu semelhante é o ápice da aventura humana, de ser, de existir. É puro contentamento!

A alegria, nos conta Paulo, é fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Ou seja, a presença de Deus na nossa vida gera bom humor e rosto sorridente. Cara amarrada, levar-se muito a sério e mau humor evidenciam a ausência de Deus e a dificuldade e incapacidade de amar. Precisa de cura, de arrependimento e de um batismo de alegria. O humor inclui o lúdico. Os jogos, as brincadeiras e a descoberta da criança que está em nós, abafada por um pai severo e cobrador. Nossos filhos nos ajudam a reencontrar atrás do adulto, responsável e sério, o menino e a menina que sabem brincar. O bom humor nos convida à festa, a comemoração, e nos recorda que o primeiro milagre de Jesus foi fazer mais vinho para que uma festa de casamento não terminasse antes do tempo (Jo 2.1-12). Faz-nos lembrar, ainda, que perdoar é motivo de festa para o nosso Deus. Quando o pródigo volta para casa, o pai convoca toda a aldeia para dançar e comer churrasco (Lc 11.15-32).

A família é o lugar do perdão e da festa. A alegria da mesa, das férias, das saídas-surpresa, das datas festivas, da vida de oração, da vida sexual.

A sexualidade humana se realiza, portanto, de forma plena e prazerosa nesta relação permeada por paixão, fidelidade, compromisso e bom humor. Aí surge o desejo da entrega mútua baseada na confiança e na ternura. E a vida sexual se torna plenitude de alegria e prazer. Dança misteriosa e poética de corpos que se unem, trocam inspiração, respiração e transpiração no jogo prazeroso de sensações agradáveis, o prazer sensorial.

Fomos criados para amar e ser amados, e Deus dá ao homem esta oportunidade e responsabilidade de se deixar conduzir por Ele no aprendizado ao longo da vida. De amar e ser amado – esta é a regra do casamento. Não é célula descartável, econômica, não é célula de proteção (máfia), não é célula reprodutiva. Mas um contexto para a aventura e o aprendizado de amar e ser amado, contexto este que possibilita a realização e a alegria do ser humano, ao nível mais profundo de sua existência.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Ouvidos que ouvem - Artigo de Osmar Ludovico

Osmar Ludovico

Com o crescimento da igreja evangélica, cresceu também a oferta de estudos bíblicos, pregações e sermões. Tem muita gente falando da Bíblia em igrejas, seminários, conferências, retiros, casas, apartamentos, e nos incontáveis programas no rádio e na televisão.

São estudos e pregações exegéticas, temáticas, biográficas, expositivas, indutivas, evangelísticas, doutrinárias, muitas receitas de como orar, evangelizar, se tornar próspero, vencer o diabo, atingindo todo tipo de público, letrado ou iletrado, pobre ou rico, urbano ou rural, adulto ou jovem.

É pregação e estudo bíblico para tudo quanto é lado, com predominância de temas triunfalistas, que falam de um Deus que promove a felicidade e evita o sofrimento.

Damos graças a Deus por isso. Nunca a Bíblia foi tão lida e tão explicada como nos dias de hoje, e sua mensagem é propagada pelos quatro cantos e acessível a toda a gente.

Estamos, no entanto, ouvindo a voz de Deus? Para tanto, precisamos de pelo menos três atitudes:

  1. Usar a Bíblia como texto, não como pretexto.

Uma leitura mais profunda das Escrituras nos leva a perceber que a Palavra é Logos, e que Logos é uma Pessoa. A Palavra é ação, é realidade, acontece, encarna. Vira gesto humano na pessoa de Jesus Cristo; não se trata de um discurso, mas de encarnação. Ela nos torna mais parecidos com Cristo. A Palavra revela um Deus de amor que não desiste de declarar seu desejo enorme de ter comunhão com a humanidade.

A Palavra é relacional e acontece na história, na vida de homens como nós. Não é história passada, mas história presente que se reatualiza hoje na vida daquele que a ouve. Muitas vezes lemos a Bíblia como algo distante, passado, que necessita de muitas explicações e argumentações.
Por outro lado, quando usamos a Bíblia como pretexto, geramos exegeses e orações equivocadas, legalismo e discussões doutrinárias estéreis, fruto de nossas próprias ambições e paixões.

     2. Adentrar uma experiência do coração.

Lemos a Bíblia para ouvir sua doce e penetrante voz para dentro da nossa realidade. A Palavra é para ser ouvida com o coração, isto é, com os afetos, que nos conduzem a uma experiência de encontro e comunhão com a Trindade.

Há uma diferença muito grande entre um estudo bíblico que é fruto de uma produção humana, e outro que é fruto de uma experiência de intimidade com Deus. A intimidade com Deus não acontece por acaso, tampouco é para todos.

Há que se cultivar o temor, a santidade, e, acima de tudo, uma saudade intensa de Deus, um desejo enorme de estar com Ele. Em contato com o vazio que existe no nosso coração, descobrimos que só um grande amor pode nos livrar do desespero ou da alienação.

Só quando percebemos o grande amor com que fomos amados, é que podemos responder com amor também. O que faz o progresso da vida espiritual não é a técnica ou o intelecto, mas os afetos, o coração.

     3. Desenvolver uma cosmovisão cristã.

Somos chamados a desenvolver nosso intelecto com leituras, a consultar comentários, dicionários, a conhecer a história passada e a atual, a ler livros com biografias de santos homens e mulheres de Deus. A conhecer teologia e ética, a tratar o texto bíblico com reverência, mas também ter uma mente inquiridora que medita, reflete, constrói o pensamento, que se move em direção a uma cosmovisão cristã da realidade humana.

É bom ler obras clássicas da literatura – os grandes romancistas e filósofos nos ajudam a ver o mundo com outros olhos, sem perder nossa referência cristã. Graças a Deus pelas editoras que editam obras de bons autores cristãos.

Em nossas livrarias, podemos escolher criteriosamente livros que nos ajudam a ser pessoas melhores e despertam nossas consciências para a missão e o serviço cristão, realizados de forma coerente e eficaz. A Palavra gera homens e mulheres cidadãos do Reino capazes de promover, de forma inteligente, transformações pessoais, familiares, comunitárias e sociais.

Estamos realmente usando as Escrituras como texto, ou como pretexto? Nossas pregações surgem a partir de uma experiência do coração e de uma mente inteligente e geram transformação? Todas essas pregações e estudos bíblicos têm gerado homens e mulheres mais parecidos com Jesus Cristo?

Fonte: http://www.blogmundocristao.com.br