segunda-feira, 17 de junho de 2013

Festa de casamento

Um casamento não é uma mera formalidade social, mas tem um significado bem mais profundo.

Primeiro, porque duas pessoas querem fazer votos, promessas e assumir compromissos um com o outro, diante de Deus, seus pais, seus parentes e seus amigos. Segundo, porque eles também desejam receber a bênção de Deus sobre sua união.

Trata-se de um momento de alegria, de encontro, de comida, bebida, bolo, danças. Surgem, então, emoções do fundo de nossa alma, emoções muitas vezes reprimidas pelas agruras do quotidiano.
Não há lugar melhor no mundo de se estar do que numa festa de casamento.

Há uma memória inconsciente escondida no fundo da nossa alma que se projeta para uma cena primordial na origem da vida humana. Naquele dia, o sexto dia, segundo o relato da criação, Deus fez adormecer o homem, e diante de uma natureza silenciosa e reverente, Ele cria a mulher. Despertado de seu sono, Adão declama o primeiro cântico da história humana: “Esta é afinal osso dos meus ossos, carne da minha carne, e será chamada mulher, porque do homem foi tirada”, Gn 2.23.

E caminharam juntos pelo jardim, uniram-se e se tornaram uma só carne.
Numa festa de casamento, nossa memória genética faz contato com esta idade da inocência no Jardim do Éden.

O que acontece então?

Somos tomados por uma misteriosa e intensa alegria. Uma alegria que contagia a todos nós. Nossa esperança é renovada. Alguns se emocionam e choram.
Olhamos para os nubentes e nos esquecemos das dificuldades do quotidiano, nossas esperanças são renovadas e, juntos, acreditamos que o amor é possível.
A esperança de sermos acolhidos, de pertencermos, de sermos reconhecidos, se renova em nossos corações.
Numa festa de casamento, por um momento, nos emocionamos com o amor, com a alegria e a disposição dos noivos, e mais uma vez acreditamos que o amor é possível, que o amor pode extrair o que há de melhor em nós.

Apesar das mazelas do mundo, nos sentimos melhores e, juntamente com os noivos, acreditamos que a nossa humanidade pode ser melhor.
É também porque numa festa de casamento tangenciamos de uma forma muito particular e intensa a presença de Deus e a presença do homem.
O divino e o humano. O sagrado e o profano. O eterno e o efémero. O amor absoluto e o amor humano. O perfeito e o imperfeito.

Esta presença divina era patente nas primeiras bodas no Jardim do Éden, nas bodas de Canaã, no diálogo de Cantares entre Salomão e Sulamita. O amor divino é a fonte e a origem de todos os amores humanos.
Então esta alegria contagiante, esta esperança renovada e esta crença no amor não têm a ver somente com a festa, mas com esta outra presença, a presença do divino, sagrado, do eterno, a presença de Deus em nosso meio.

Eventos festivos não duram. A festa acaba. Segunda-feira acordamos e enfrentamos as dificuldades da vida, e cada um tem as suas dores existenciais, emocionais, familiares, profissionais, físicas.
E a alegria, a esperança e o amor que experimentamos no dia da festa, de forma tão intensa, podem sucumbir.

Então, como proteger, como cuidar bem dessa alegria, dessa esperança e desse amor que vivemos no momento da festa?

Só mesmo se os votos que, feitos pelos noivos, servirem de ponte entre estas duas presenças, a presença de Deus e a presença humana.
Só mesmo se pudermos dizer de todo o coração, com toda a sinceridade, com toda a convicção: “Senhor, nosso Deus, é pra valer! O compromisso que assumimos hoje é para toda a vida, damos nossa palavra diante de Ti e diante dos homens. Queremos resistir a todos os desencontros e conflitos, queremos guardar a alegria no dia mau, queremos guardar esta esperança na hora do conflito”.

Podemos divergir, desencontrar, enfrentar tensões e conflitos inerentes a um relacionamento a dois. Podemos até mesmo encontrar aqueles sentimentos e desejos de desistência, de ruptura, tão próprios da nossa frágil humanidade e sua dificuldade de lidar com o conflito. Para então encontrar esta outra presença, diante de quem fizemos estes votos, a presença de Cristo, que a partir de seu amor incondicional nos ensina a perdoar, a nos reconciliar e permanecer na alegria, na esperança e no amor.

Artigo de Osmar Ludovico

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