terça-feira, 11 de junho de 2013

Ouvidos que ouvem - Artigo de Osmar Ludovico

Osmar Ludovico

Com o crescimento da igreja evangélica, cresceu também a oferta de estudos bíblicos, pregações e sermões. Tem muita gente falando da Bíblia em igrejas, seminários, conferências, retiros, casas, apartamentos, e nos incontáveis programas no rádio e na televisão.

São estudos e pregações exegéticas, temáticas, biográficas, expositivas, indutivas, evangelísticas, doutrinárias, muitas receitas de como orar, evangelizar, se tornar próspero, vencer o diabo, atingindo todo tipo de público, letrado ou iletrado, pobre ou rico, urbano ou rural, adulto ou jovem.

É pregação e estudo bíblico para tudo quanto é lado, com predominância de temas triunfalistas, que falam de um Deus que promove a felicidade e evita o sofrimento.

Damos graças a Deus por isso. Nunca a Bíblia foi tão lida e tão explicada como nos dias de hoje, e sua mensagem é propagada pelos quatro cantos e acessível a toda a gente.

Estamos, no entanto, ouvindo a voz de Deus? Para tanto, precisamos de pelo menos três atitudes:

  1. Usar a Bíblia como texto, não como pretexto.

Uma leitura mais profunda das Escrituras nos leva a perceber que a Palavra é Logos, e que Logos é uma Pessoa. A Palavra é ação, é realidade, acontece, encarna. Vira gesto humano na pessoa de Jesus Cristo; não se trata de um discurso, mas de encarnação. Ela nos torna mais parecidos com Cristo. A Palavra revela um Deus de amor que não desiste de declarar seu desejo enorme de ter comunhão com a humanidade.

A Palavra é relacional e acontece na história, na vida de homens como nós. Não é história passada, mas história presente que se reatualiza hoje na vida daquele que a ouve. Muitas vezes lemos a Bíblia como algo distante, passado, que necessita de muitas explicações e argumentações.
Por outro lado, quando usamos a Bíblia como pretexto, geramos exegeses e orações equivocadas, legalismo e discussões doutrinárias estéreis, fruto de nossas próprias ambições e paixões.

     2. Adentrar uma experiência do coração.

Lemos a Bíblia para ouvir sua doce e penetrante voz para dentro da nossa realidade. A Palavra é para ser ouvida com o coração, isto é, com os afetos, que nos conduzem a uma experiência de encontro e comunhão com a Trindade.

Há uma diferença muito grande entre um estudo bíblico que é fruto de uma produção humana, e outro que é fruto de uma experiência de intimidade com Deus. A intimidade com Deus não acontece por acaso, tampouco é para todos.

Há que se cultivar o temor, a santidade, e, acima de tudo, uma saudade intensa de Deus, um desejo enorme de estar com Ele. Em contato com o vazio que existe no nosso coração, descobrimos que só um grande amor pode nos livrar do desespero ou da alienação.

Só quando percebemos o grande amor com que fomos amados, é que podemos responder com amor também. O que faz o progresso da vida espiritual não é a técnica ou o intelecto, mas os afetos, o coração.

     3. Desenvolver uma cosmovisão cristã.

Somos chamados a desenvolver nosso intelecto com leituras, a consultar comentários, dicionários, a conhecer a história passada e a atual, a ler livros com biografias de santos homens e mulheres de Deus. A conhecer teologia e ética, a tratar o texto bíblico com reverência, mas também ter uma mente inquiridora que medita, reflete, constrói o pensamento, que se move em direção a uma cosmovisão cristã da realidade humana.

É bom ler obras clássicas da literatura – os grandes romancistas e filósofos nos ajudam a ver o mundo com outros olhos, sem perder nossa referência cristã. Graças a Deus pelas editoras que editam obras de bons autores cristãos.

Em nossas livrarias, podemos escolher criteriosamente livros que nos ajudam a ser pessoas melhores e despertam nossas consciências para a missão e o serviço cristão, realizados de forma coerente e eficaz. A Palavra gera homens e mulheres cidadãos do Reino capazes de promover, de forma inteligente, transformações pessoais, familiares, comunitárias e sociais.

Estamos realmente usando as Escrituras como texto, ou como pretexto? Nossas pregações surgem a partir de uma experiência do coração e de uma mente inteligente e geram transformação? Todas essas pregações e estudos bíblicos têm gerado homens e mulheres mais parecidos com Jesus Cristo?

Fonte: http://www.blogmundocristao.com.br

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