quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A Igreja de todos nós

Autor: Osmar Ludovico

Ficar na igreja visível, em comunhão com o povo de Deus, é um ato de fidelidade e humildade.Temos ouvido muitas críticas à Igreja Evangélica brasileira. E boa parte delas – algumas leves, outras mais pesadas – eclode de suas próprias entranhas. Enquanto alguns acham que vivemos um avivamento espiritual, dado o expressivo crescimento numérico, outros acreditam que vivemos um sério desvio do Evangelho, face ao esvaziamento ético e às teologias equivocadas que têm sido pregadas em tantos púlpitos.

Encontramos muitos crentes feridos pelo legalismo. São muitas, também, as histórias de abuso espiritual, bem como os escândalos de líderes que enriqueceram no ministério. Quais de nós, crentes em Jesus, já não nos descobrimos olhando criticamente para a igreja, participando até de conversas cujo teor é maledicente em relação a ela?

Além de pedirmos a misericórdia do Senhor, é preciso entender que esse ente místico chamado Igreja é o Corpo de Cristo, mas é, também, formada por todos nós. Olhamos para a instituição eclesiástica e vemos muitos defeitos, o que é normal, posto que ela é, também, humana. Muitas vezes perdemos de vista, contudo, que Igreja é povo de Deus, e dele fazem parte todos os que creram em Jesus.

É o próprio Espírito Santo que nos insere no Corpo, dando-nos um sentimento de pertencimento a esse povo. Logo, igreja somos todos nós, o povo de Deus que se reúne em torno de uma determinada instituição. Portanto, ao invés de simplesmente reclamarmos, criticarmos e trocarmos de igreja, hoje temos a oportunidade de ser criativos na busca de projetos eclesiais de formação espiritual, que resultem em homens e mulheres transformados, mais santos, mais servos, mais afetivos.

A história da Igreja já conta dois mil anos. Uma trajetória que registra muitas crises, muitos desvios, mas que, apesar disso, sempre manteve um testemunho de fé e de obediência. Deus nunca desistiu de seu povo, e vemos isto nas Escrituras. A Igreja em Corinto tinha problemas enormes: divisões, imaturidade, prática de pecados como idolatria, impureza sexual e incesto.

Ali aconteciam disputas entre fiéis que chegavam até aos tribunais, bebedeira no culto e uso equivocado de dons espirituais. Entretanto, Paulo diz: “Porque zelo por vós com zelo de Deus, visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo” (II Co 11.2). O noivo da Igreja, Jesus Cristo, se mantém fiel até mesmo a uma comunidade como a de Corinto. Sim, apesar da desobediência e da infidelidade de seus filhos, Deus não vai desistir dos seus eleitos, sejam eles ortodoxos, católicos ou reformados.

O Credo dos Apóstolos, ou Credo Niceno, base de fé da Igreja, afirma crer em Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, na santa igreja universal, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna. Assim professamos nossa fé:crendo em um só Deus – Pai, Filho e Espírito Santo –, mas, também, cremos que, do Pentecostes até a volta do Salvador, haverá uma só Igreja, isto é, uma comunhão universal e local de homens e mulheres que creem e adoram, pela verdadeira fé, o Senhor Jesus Cristo.

Esta Igreja é universal e compreende todos os crentes de todos os tempos e nações que têm comunhão com o Pai, através de Jesus Cristo, e são santificados pelo Espírito Santo. Tal Igreja é invisível, conhecida só de Deus, e se expressa de forma concreta na face da terra através de todas as confissões cristãs. Nesta Igreja, cremos.

Durante toda a história da Igreja, temos testemunhos de obediência e fé. Não poderia ser deferente na nossa época. Esse testemunho não se encontra na igreja que está na mídia, aquela que fala em conquista e busca visibilidade, mas na periferia, no anonimato. São milhares de pequenas igrejas, de pastores anônimos, de grupos que se encontram em locais variados.

É gente que busca a Deus apaixonadamente, que lê e se deixa ler pelas Escrituras, que está crescendo em todas as dimensões da vida – espiritual, emocional, relacional e social. Estes nunca deixaram de crer e amar a igreja; e, apesar de suas crises, dos seus erros e dos desmandos aqui e ali praticados, insistem em permanecer na igreja institucional. Existem muitas boas igrejas locais espalhadas pelo mundo.

Tenhamos, portanto, muito cuidado em falar mal do Corpo de Cristo. Ao contrário, perseveremos com santidade no serviço comunitário para evangelizar o mundo, edificar a Igreja e socorrer aos necessitados, procurando para eles alívio e justiça. Ficar na igreja visível, em comunhão com o povo de Deus, é um ato de fidelidade e humildade.

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