quinta-feira, 11 de julho de 2013

Temos medo de estar sós!

Artigo de Osmar Ludovico

O Secreto

As Escrituras afirmam que somos o templo ou a morada do Espírito Santo. O templo é um lugar de encontro, onde o homem encontra Deus. Dentro de nós, na interioridade e na intimidade de nossa alma, Deus se encontra. O Deus vivo e verdadeiro se faz acessível através de seu amor pelos homens. Assim, torna-se possível esta união da alma do pecador com o Espírito de Deus, uma verdade que se dá no íntimo, na dimensão do vínculo e do encontro. União não é fusão ou confusão. Não é panteísta, pois embora “um” comigo, Deus continua o Deus Todo-poderoso.

Apesar de “um” com ele, continuamos indivíduos; não somos absorvidos, mas entre nós e Deus continua havendo uma relação eu/tu, pessoa a pessoa. O teste sublime desta unidade é que quanto mais eu sou um com Deus, mais eu posso ser eu mesmo.

A espiritualidade cristã implica na alma apegada a Deus, isto é, passa do discurso lógico e racional para o discurso afetivo, o discurso do coração. Implica em entrega, em vulnerabilidade, em abandono na presença do Deus vivo. Carlos Hernandez nos ensina acerca de Maria como exemplo de fé. Quando ela diz: “Aqui está a serva do Senhor, que assim se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 1.38), ela literalmente está dizendo: “Eis aqui o meu útero, assim se cumpra em mim conforme a tua palavra”. Nesta vulnerabilidade, neste abandono nas mãos de Deus, Maria se entrega e se deixa “envolver pela sombra do Altíssimo”(Lc 1.34). Através desta presença fertilizadora de Deus, Maria se torna grávida de Jesus, o Salvador de todos os homens.

Uma alma apegada a Deus significa esta disponibilidade, esta vulnerabilidade e abandono, para que a presença fertilizadora de Deus nos envolva e nos torne grávidos de “boas obras, as quais ele de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
No sermão da montanha, Jesus nos fala de três hábitos religiosos que estão em prática através dos séculos nas mais variadas religiões: dar esmolas, orar e jejuar (Mt 6).

Jesus não diz “você deve orar”, mas “quando pois fizeres”. Não é uma obrigação, mas uma escolha do coração; uma escolha de um tempo para estar com ele na intimidade. Somos livres para orar, mas se escolhermos orar, então Jesus Cristo tem um conselho para nós. Ele diz para entrar em nosso quarto, fechar a porta, tomar todas as providências para que ninguém nos surpreenda e, então, orar.
O secreto não é uma dimensão externa, de um lugar, mas também uma dimensão interna, no íntimo do coração, um refúgio. O Salmo 51.6 nos diz: “Eis que te comprazes na verdade no íntimo, e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria”. Dentro de nós, uma dimensão fora do plano do racional pragmático, um tempo de silêncio, de recolhimento e solitude diante de Deus.

A verdadeira oração, conforme o conselho de Jesus Cristo, é secreta, isto é, a eficiência espiritual se dá no íntimo da alma a partir de uma realidade que ninguém vê, ninguém conhece. Isto quer dizer que não pode se tornar uma técnica, não se pode aprender, não se pode ensinar. Trata-se de uma realidade íntima, que não vemos, não tocamos. Não podemos fazer cópia, comercializar, ganhar, dar, pegar, tomar. Para descobrir, basta entrar no quarto, fechar a porta, entrar no secreto...

Temos medo de estar sós.

Daí os muitos ruídos, as multidões, as torrentes de palavras e pensamentos. Rádios e televisões ligados vinte e quatro horas por dia. Entrar no secreto significa entrar no silêncio e na quietude. O secreto não é um lugar, mas um estado de consciência. No secreto não estamos sozinhos; aí nossa alma encontra o Deus vivo e verdadeiro.

E como fica a vida pública, o ministério, a salvação do mundo? Lembramo-nos de dois verbos importantes na vida cristã: edificar e dar frutos. Jesus nos ensina sobre as casas construídas na rocha e na areia (Mt 7.24-27). As casas nos mostram os dois aspectos da vida cristã: externamente, a casa, aquilo que se vê; internamente, os alicerces, aquilo que não se vê. O importante, diz Jesus, são os alicerces, que estão cobertos, não são vistos, estão na escuridão e nas profundezas – aí está a ideia do secreto.

Temos a mesma idéia na expressão “dar frutos” (Jo 15.16,). Sabemos da importância dos frutos na vida cristã, frutos de arrependimento, fruto do Espírito, fruto de boas obras. Uma árvore pode ter um tronco magnífico e folhas viçosas, mas se a raiz estiver afetada, a árvore vai morrer, ou então os seus frutos não serão consistentes.

A raiz precisa estar coberta, no escuro, nas profundezas, e beber nos mananciais de águas puras. Assim serão saudáveis e os frutos certamente virão.

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