quinta-feira, 18 de abril de 2013

AMIZADE É UM PASSAR - (Baseado em Êxodo. 33.11)


Artigo de Romildo Neres


A proposta neste post é entrarmos na necessidade de purificarmos as imagens de Deus soletradas pelas nossas inseguranças e medos. O paradigma  ou simplesmente os "critérios que estabelecemos como a verdades ou validação do que nos traz dúvidas ou certezas em relação a este assunto". Esta tentativa aplicada à nossa relação com Deus, pode resultar num efeito extraordinariamente libertador. A amizade é a aceitação positiva do limite. Chega um momento em que vais para a tua casa e eu para minha e isso não representa nenhum drama. Pelo contrário, sabemos que nos havemos de reencontrar; que não nos perdemos de vista; que essencial permanente intacto na distância.

Pensar assim a nossa relação com Deus enche-nos de serenidade e de alegria; há um sopro interior que nos assiste; a nossa oração ganha uma respiração que parte realmente de nós em vez desenvolver-se num plano de pura abstração. Pois infelizmente grande parte da nossa oração não tem alma e corpo, não tem sangue e verdade, não tem barro e espírito. No fundo, persistimos numa imagem de Deus que exige de nós sacrifícios, quando o Deus de Jesus Cristo quer a vida justa, plena levada à sua alegria. Um exemplo de fé baseada na amizade é o de Moisés. Moisés fala com Deus face a face, com um homem diante do seu amigo (Ex. 33,11). Também precisamos disso, de nos sentarmos diante de Deus e falarmos com Ele como um homem, como uma mulher fala com um amigo, uma amiga.

Precisamos de chegar a essa fluidez de relação e sentirmos que um "tu a tu", rostos que se enfrentam, um coração diante de um coração. Esta proximidade não belisca a transcendência de Deus. Deus continua dizer "Moisés, vou passar diante de ti, Vou mostrar minha beleza, mas tu não poderás me ver a Minha Face. Só pelas costas vais olhar a Minha beleza. Na verdadeira amizade aceitamos do outro o que ele nos dá ou pode dar, fazemos disso um ponto de partida alegre. A ansiedade de querer saber tudo, de escrutinar " verificar a entrada" projetar um desejo de domínio, desejo de poder. A amizade é um passar. Deus passa sua beleza diante de Moisés e Moisés vê uma parte, que é aquilo que pode ver. Se vivêssemos assim a nossa experiência espiritual, ela seria mais pacificada, mais adulta e certamente mais fecunda. Temos de abrir as mãos, deixar que Deus passe. A fé pascal por exemplo não é outra coisa: passagem, trânsito, tráfego de beleza, epifania, revelação que não se toca. "Noli Me Tangere" ou "Não me detenhas" Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, virando-se, lhe disse em hebraico: Rabôni! (que quer dizer, Mestre). Disse-lhe Jesus: Não me toques; porque ainda não subi ao Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes que subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus. (João. 20.17), diz o Cristo ressurreto à discípula. Nós estamos diante de Deus como amigos, na gratuidade de uma relação.

Baseado nas minhas reflexões sobre a obra de "José Tolentino Mendonça"

Fonte: http://soscoimbra.blogspot.pt/

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