Isabelle Ludovico
Uma síndrome típica da modernidade é essa necessidade de correr atrás do tempo. Nós nos achamos na obrigação de estarmos sempre muito ocupados porque, na nossa sociedade, “estar ocupado” é sinônimo de “ser importante”. Assim, caímos num ativismo desenfreado que gera estresse e nos impede de desfrutar a vida. Essa atitude revela a dificuldade de lidar com a nossa finitude. Para fugir da consciência da nossa morte, enchemos nossa agenda sem perceber que estamos confundindo quantidade e qualidade, privando-nos assim de apreciar a riqueza de cada instante. O ativismo também diminui a nossa produtividade, pois acabamos atropelando a nós mesmos e minando nossa eficiência. Ele funciona como uma droga: num primeiro momento, produz uma certa euforia, mas esta emoção é passageira. Para consegui-la novamente, precisamos aumentar a dose, isto é, acelerar cada vez mais. Paulatinamente, ficamos viciados em ativismo, incapazes de parar e sossegar.
Existe um paradoxo que nos leva a só perceber o valor da saúde quando ficamos doentes e só valorizar a vida quando somos confrontados com o seu limite. Pacientes terminais ou pessoas que viram a morte de perto – que foram seqüestradas, por exemplo – passam por um processo em que tendem a refazer o seu projeto de vida. Eles descobrem que se deixaram envolver por necessidades periféricas e não deram ouvidos a seus anseios básicos: o desejo de pertencer, de fazer parte, de ser acolhido; o desejo de transcendência, que os leva a buscar se reconciliar com Deus; e o desejo de sentido existencial, ligado à qualidade dos nossos relacionamentos e à nossa contribuição no Reino de Deus. Eles geralmente chegam à conclusão de que, se conseguirem escapar, vão mudar sua escala de valores e dar prioridade a alguns vínculos significativos.
Existe um paradoxo que nos leva a só perceber o valor da saúde quando ficamos doentes e só valorizar a vida quando somos confrontados com o seu limite. Pacientes terminais ou pessoas que viram a morte de perto – que foram seqüestradas, por exemplo – passam por um processo em que tendem a refazer o seu projeto de vida. Eles descobrem que se deixaram envolver por necessidades periféricas e não deram ouvidos a seus anseios básicos: o desejo de pertencer, de fazer parte, de ser acolhido; o desejo de transcendência, que os leva a buscar se reconciliar com Deus; e o desejo de sentido existencial, ligado à qualidade dos nossos relacionamentos e à nossa contribuição no Reino de Deus. Eles geralmente chegam à conclusão de que, se conseguirem escapar, vão mudar sua escala de valores e dar prioridade a alguns vínculos significativos.
Aprofundar a nossa conversão significa transformar esse ativismo em quietude e serenidade – “Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em sossegardes está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança a vossa força” (Is 30.15).
É um convite para pessoas que não querem mais ser levadas pelas pressões, internas e externas, e decidem escolher o seu caminho a partir de uma relação mais íntima com Deus. A experiência profunda do amor incondicional do Pai fundamenta nossa identidade em Deus e não em desempenho e sucesso. Ela possibilita uma acolhida amorosa de nós mesmos e desperta um desejo de desfrutar mais plenamente a vida, desenvolvendo o nosso próprio potencial, pois nos liberta do medo da rejeição e da crítica. Ao assumir o risco de sair dos padrões estereotipados que herdamos, podemos trilhar novas picadas.
Somente uma relação apaziguada com nós mesmos permite estarmos totalmente presentes – corpo, alma e espírito –, usufruindo cada instante. Caso contrário, tendemos a fugir de nós próprios e de nossos conflitos internos, correndo de uma atividade para outra e usando o controle de nossas mentes para sufocar as emoções. É preciso coragem para nos aventurar em nosso espaço interior e enfrentar os fantasmas da nossa alma. As mágoas, carências e decepções que escondemos em nosso porão nos impedem de ter acesso à nossa força vital e criativa. Ao tentar nos proteger do sofrimento, acabamos nos privando da alegria. Quando encarados, os fantasmas tendem a diminuir, porque eles se nutrem do nosso medo.
Aceitar a nós mesmos com nossa luz, mas também com nossa sombra, é a porta de entrada para viver com intensidade e gozo cada dia que nos é dado como um presente e que, geralmente, desperdiçamos. Esta é a única maneira de poder nos despedir do passado e acolher com confiança e gratidão o futuro, a partir da convicção de que soubemos aproveitar aquilo que a vida nos proporcionou. Dessa forma, as boas lembranças do passado são nosso tesouro e nutrem a nossa alma em vez de desembocar na dor da saudade, que provém muitas vezes da sensação de perda por algo que não fomos capazes de vivenciar plenamente. Assim, podemos dizer de coração:
“Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Sl 118.24).
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